quinta-feira, 8 de julho de 2010

A glamourização da bandidagem e a cegueira nacional


A sensação é que cegueira tomou conta do país. E não é de hoje. Muito antes de emergir esse rumoroso caso da morte covarde dessa moça, a Eliza, eu assisti a um debate, não me lembro o canal, onde uma senhora, militante de uma ONG feminista e defensora dos direitos das mulheres, mostrava um vídeo com o goleiro Bruno, do Flamengo, fazendo apologia à violência contra as mulheres.

As notícias exploram exaustivamente a relação de jogadores com o tráfico de drogas, ora subindo morros ao lado de traficantes armados de fuzis, ora dando dinheiro a traficantes para corromperem os moradores, ora adquirindo veículos em parcerias terrivelmente mal explicadas. Ademais, notícias dos bastidores policiais existem aos montes de festinhas de embalo entre jogadores famosos e prostitutas pobres, que são alvo de violências, humilhações e agressões.

Quem assistiu aos telejornais na noite de ontem, quem ouviu os pormenores sobre como esses bandidos mataram a pobre moça, a Eliza, cujo único crime foi ter dado amor a um vagabundo, psicopata, deve ter ficado se questionando: como essas pessoas chegam a esse nível de barbarismo, de covardia, de violência e de truculência?

Ora, ora, ora. Os cartolas do futebol brasileiro estão preocupados é em engordar seus lucros, existe por trás do futebol um negócio milionário. Não existe apelo ético e nem valorização dos bons costumes. Wagner Love ao lado de marginais armados, a margem da lei e do Estado, rende publicidade, inobstante negativa. Apesar de tudo isso, os clubes e suas direções são totalmente omissos. Não tomam medidas exemplares, não emitem notas de reprovação, omitem-se.

Será que quando aquela senhora, militante dos direitos das mulheres, combatente da violência, será que quando ela mostrou as cenas do vídeo pela primeira vez, não tivesse sido a sociedade complacente e a direção do Flamengo omissa, ele teria seguido firme em seu intento criminoso contra as mulheres? Se o clube tivesse lhe aplicado uma reprimenda, se o Flamengo – por sua direção e departamentos técnicos – tivessem lhe dito que aquilo era feio e um desserviço aos esportes, será que ele teria insistido na bandidagem?

A grande verdade é que a sociedade está endeusando um monte de vagabundos, bandidos das piores espécies, gente que sequer poderia estar inserida no convívio social. Como esses delinqüentes não conhecem limites e como a própria sociedade lhes dá guarida, desde a não censura aos seus atos tresloucados até a glomourização dos crimes, eles sentem-se fortalecidos em seus intentos. É um ciclo de impunidade que começa com o tráfico e termina com os grandes patrocinadores, as poderosas agências de publidades e redes de televisão.

A imprensa desportiva nacional é formada por um bando de idiotas, isso qualquer pessoa medianamente informada sabe. Ninguém é capaz de alertar sobre as conseqüências funestas dessas reiteradas práticas criminosas de jogadores de futebol. As conseqüências estão aí.

Esportes devem ser associados a práticas sadias, a vida pura e hábitos saudáveis. O que está acontecendo no Brasil é um sincretismo entre os vícios e os esportes, embalados pela apologia e a glamour do crime. Ademais, conta tudo com a omissão da sociedade e a acriticidade dos meios de imprensa, que parecem achar bonito tudo isso.

A acriticidade começa no fanatismo cego que induz o pensamento nacional e achar que o futebol brasileiro é o melhor do mundo e que só nós temos craques, que só nós somos os melhores e que só não entendemos de bola. O exemplo da copa do mundo, aliás, deu um choque de realidade nisso tudo. Nosso futebol está abaixo da crítica, nem nas  finais conseguimos chegar. O futebol do Uruguai revelou-se bem mais eficiente e produtivo que o nosso. A máscara nacional caiu.

Foi-se o tempo em que os esportes eram símbolos de saúde, de qualidade de vida e de condição humanista saudável. O Brasil agora debate-se com o que um círculo dos desportos nacional fez uma pobre e indefesa mulher e seus filhinho. Picar um corpo, jogar partes do corpo aos cães, cimentar os ossos, convenhamos, nem os nazistas, em seu requinte de crueldade, chegaram a tanto.

Resta saber quem produziu Bruno, esse monstro, senão a própria sociedade, senão a própria mídia, senão o próprio meio esportivo nacional. Mas Bruno é um caso que veio a tona e não é necessário ser um cientista social para identificar uma forte podridão no nosso tecido social. Sabe-se lá quantos barbarismos desses delinqüentes, guindados a condição de semi-deuses por uma torcida de imbecis, não são praticados e permanecem impunes?

E esse policial que teria esquartejado o corpo da moça? Por que é será que o procuraram? Não será por que ele é conhecido por fazer esse tipo de serviço, inclusive de concretar ossos para evitar provas? Não foi a toa que os capangas de Bruno foram atrás dele.

Que cegueira, que momento vive nossa sociedade. Será que não estava na hora de abrirmos os olhos? Será que os esportes não estão manchados com tudo isso? Será que rima essas posturas de atletas macomunados com criminosos?