quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nascido em agosto, canhoto e atravessado


Ontem a tarde conversava numa roda de amigos sobre os nascidos no mês de agosto. É claro, eu nasci dia 12 de agosto e isso pautava a conversa. Criei-me ouvindo contarem que era o mês em que os cachorros enlouqueciam e os nascidos nesse já eram tidos como “malditos”. Pra completar minha triste sina: era canhoto. Nascido dia 12 de agosto e canhoto. Na escola, lutaram, lutaram para me fazer escrever com a mão direita. Nunca consegui.

Nunca li horóscopos, nunca fui supersticioso, já nasci meio ateu. Sei lá, devem ser meus genes, mas nunca tive fé em religiões e crenças metafísicas. Horrível isso. O crente, aquele que crê, sofre menos diante do absurdo da vida. É claro que meu pessimismo é camusiano puro. Paciência.

No dia em que o município de Cachoeira do Sul comemorava seus 189 anos, a denúncia contra seu filho ilustre e de tradicional família, José Otávio Germano, deve ter caído como uma bomba no círculo político local.

Mas, ainda falando em Ministério Público, independente do que venha a ser decidido pelo poder judiciário, deve ser louvada a coragem, a autonomia e a independência desses jovens procuradores Jerusa Vicieli, Ivan Cláudio Marx, Fredi Everton Wagner, Adriano dos Santos Raldi, Alexandre Schneider e Enrico Rodrigues de Freitas. O exemplo, para mim, particularmente, resgata a esperança que sempre tive no Ministério Público. Esperança essa que parecia morta devido ao chauvinismo que tomou conta das cúpulas do MP estadual, matando a autonomia da instituição e colocando-a à reboque do poder executivo. Aliás, o exemplo do MPF deverá servir de exemplo para tantos promotores estaduais que se acomodaram e cederam às tentações do Executivo.

Nunca se duvidou da honradez e integridade dos seus membros, mas foi colocada em xeque a combatividade do MP gaúcho em face de uma duvidosa aliança política com o governo tucano de Yeda Crusius. Se alguém antes tinha alguma dúvida sobre a escolha do MPE, o que deverão estar dizendo nessa hora?

Tanto nessas importantes questões afetas à operação Rodin e seus desdobramentos, passando – inclusive – pela aquisição da casa da família Laranja pela governadora, a ação do MP gaúcho deixou a desejar. O mesmo chauvinismo, aliás, se verifica na questão da monocultura de exóticas no bioma pampa, onde um grande crime ambiental vem sendo perpetrado e a complacência grassa. O plantio de eucaliptos, em larga escala, para fins de celulose é apontado pelos especialistas como o maior crime contra o nosso Bioma Pampa. Terras são compradas em nome sabe-se lá de quem e em lugar das práticas tradicionais de cultivo na área do bioma, erguem-se gigantescas plantações de eucaliptos, alterando todo o nosso ecossistema e boa parte dos promotores que deveriam se levantar contra esse crime ambiental de proporções alarmantes, parece fingir desconhecer essa questão.

Por isso, o exemplo do Ministério Público Federal, revelando coragem, ousadia, esperança, independência, autonomia, dever cumprido, deve ser saudado, elogiado, afinal é a volta da confiança na esperança. A bandalheira e a impunidade na fraude do DETRAN deixava-nos tristes, impotentes. Por tudo, hoje é um dia muito especial em nossas vidas. Mesmo os nascidos em agosto, canhotos e tudo mais que existe de atravessado, têm lá seus sentimentos. Eu tenho os meus e ontem foi um dia em que tive orgulho do MP enquanto instituição. Sentimento bom esse.