terça-feira, 11 de agosto de 2009

O dia em que eu nasci, 12 de agosto

12 de agosto. Frio, mas não muito. Como todo ser que pensa e reflete, por ser hoje meu aniversário, estou com os sentimentos e percepções mais aguçados. É sempre assim, a gente não segura o turbilhão de reflexões, pensamentos, retrospectivas ... e até um certo balanço do que foi, afinal, a vida até aqui.

Ontem à noite, eu fui até o armazém do Osmar, ali perto dos trilhos. Vou lá por um motivo muito especial. Tanto eu quanto a Lizi adoramos uns biscoitos caseiros lá vendidos. Tal de “N.D Biscoitos Caseiros”, de Nelcinda C.K. Donini, uma empresa genuinamente santiaguense, que faz umas bolachinhas amanteigadas e de polvilho como ninguém. As melhores e mais saborosas. E confesso que não sei quem são os proprietários, apenas compro-as. Assim, sai de casa e fui buscar as nossas bolachinhas. A Lizi recomenda-me para passar no Languiru e comprar “carninhas” para o Totó. Sim, depois de 4 dias longe de casa, ele voltou. Apareceu de madrugada, arranhou a porta até eu abrir e acampou novamente ao redor da casa.

Só que agora apareceu uma cadelinha de rua, uma cadelinha pequenina e veio num dia de chuva, tremia, tremia. Aconchegou-se na porta e foi ficando. Não quis tocá-la. Estendi meu casaco, o mesmo que dei para o Totó e ela ficou ali e está até hoje. Moral, agora temos um casal, um cachorro de um rua e uma cadela de rua. Logo, não são carninhas mais só para o Totó. Achou que vamos chamá-la de Lili.

Assim, minha família agora é a Lizi, o Totó e a Lili. E, é claro, um montão de amigos.

No caminho de volta para casa, depois de ter comprados as bolachas de polvilho, terminou a luz na cidade e às vésperas do meu aniversário, pus-me a pensar no sentido da vida, no que se leva da vida, o que sou eu, afinal.

Por instantes, pensei que era melhor não pensar em nada. Mas não consegui. Pensei. Pensei na casa onde moro, na Lizi que estava lá dentro, no computador, nas pessoas que são meus amigos e parte fundamental da minha família, nos bichinchos que por alguma razão cósmica (ou mera fatalidade) vão se achegando ... no café que faria no microondas, nas bolachas que poderia saborear e na festa que a Lizi faz quando encontro aqueles pacotinhos de bolachas de polvilho. Nessas horas, ao ensejo dessas reflexões, noto como sou um homem feliz. Tenho consciência que sou descompassado com a vida social, com ritos e valores, mas sou bem centrado quando se trata de minha vida pessoal.

É claro que o meu julgamento, aos olhos de quem vê a vida a partir da matéria, da quantidade, das cifras, dos números, do sucesso, seria fulminante como o juízo valorativo daqueles que adoram me chamar de fracassado. Mas eles e elas passarão. Eu, apenas sigo.

O que busquei da vida, consegui tudo, pois sempre tive noção do que buscava. Busquei o que realizava e me dava prazer. Sei que poucos entendem a razão espiritual da busca pelo conhecimento. Mas, acreditem, eu tinha uma ânsia muito grande, mas muito grande mesmo, para entender o mundo, a sociedade, as religiões, os valores, os ritos, as organizações sociais, as teses acerca do planeta, da origem da vida, o poder, a política...Dediquei-me, investi, apostei. Sei que sou um baita generalista, mas me sinto bem assim, sei um pouquinho do que quis saber e isso me faz bem e feliz.

O balanço que posso e devo fazer nesse dia é que sou muito feliz e realizado, individualmente. Coletivamente, considero-me fracassado e impotente, pois desagrada-me muito a vida em sociedade, a lógica concorrencial, o lucro e a ganância.

Dia 10 de agosto, completou 7 anos que eu a LIZI estamos juntos. Uma relação que deu certo, apesar das diferenças.

Meus amigos e amigas são outra grande realização de minha vida. Adoro as pessoas que estão ao meu redor, que me mandam e-mails, que me ligam, que interagem comigo. Talvez, elas nem entendam a extensão desse significado afetivo para mim.

O balanço, então, é simples. 12 de agosto de 2009, não poderia ser melhor. É exatamente como sempre quis. Cercado de amigos e amigas, com um amor ao meu lado, com 2 cachorros, com saúde, comendo o que eu gosto, adorando doces (adoro doces), correndo atrás dessa máquina perversa para pagar as contas no final do mês e com o lançamento de um livro para um dia depois do meu aniversário. Nem eu imaginei que fecharia 50 anos assim. Que doce de vida. Parece um sonho. Quero apenas continuar sonhando.