terça-feira, 18 de agosto de 2009

A República entre a verdade e a mentira

Recolhido, tomando chás, muito mel e limões, detive-me, ao longo de horas, no depoimento da ex-secretária da receita federal Lina Vieira no senado federal. Nenhum senador conseguiu arrancar nada de novo, tal a coerência de seu depoimento. Repetia quase sempre a mesma coisa e não a vi cair em contradição. Talvez seja mesmo uma técnica, mas notei que poderia ser mais rica em detalhes, mais precisa. Ao descrever o gabinete de Dilma, apenas disse que esta tudo meio escuro, na penunbra e que Dilma estava de chale, um chale muito bonito, frisou.

Dilma, a ministra-chefe da casa civil, nega esse encontro.

Testemunhas? Vai aparecer o motorista terceirizado da receita federal e confirmar a versão de que numa tarde de dezembro levou-a mesmo até o estacionamento do planalto?
E as câmeras? Bem, as câmares é uma novela. Na receita, Lina alega que estava de mundando do sétimo para o sexto andar e que estava sem câmeras as dependências. Sim, claro, mas e os demais ambientes do prédio da secretaria da receita federal, inclusive os estacionamentos, a saída do prédio?

O caso é curioso. A oposição precisar acreditar em Lina e diz que tudo é verdade, que ela realmente esteve no palácio, no 4° andar.

A situação, nega tudo e diz que a reunião não houve.

É claro, se houve a reunião, Dilma fica em maus lençóis, interferindo na autonomia da receita e ferindo princípios da administação pública, ainda mais numa carreira de Estado.

Confesso que hoje tenho mais dúvidas do que antes desse depoimento. Por outro lado, noto que certos senadores governistas, quando reiteram que Dilma não cometeu crime nenhum, parecem presumir a inocência desta por hipótese. Ora, se não aconteceu a reunião, não há que se falar em suspostos crimes, erros ou acertos na postura de Dilma.

De tudo, uma coisa é certa, alguém está mentindo nessa história. Ou a ministra Dilma ou a ex-secretaria da receita federal, Lina Vieira. Alguém está faltando com a verdade. E convenhamos, que mentira, um lado ou outro está produzindo. De um lado, uma auditora-fiscal, integrante de uma carreira de Estado, até bem poucos dias atrás a mulher mais poderosa da receita federal. De outro, a poderosa ministra-chefe da casa civil da presidência da república.

A oposição, por ser oposição, acredita em Lina. A situação, por ser situação, acredita em Dilma.

Como estou de molho, tentando me curar de uma gripe, confesso-me em dúvidas, cada vez mais em dúvidas. Mas com uma certeza: se mente muito nessa República. Por isso escrevi no meu livro que o fio que separa a verdade da mentira é tênue. Eis aí o exemplo.