"Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras". Declaração Universal dos Direitos Humanos - Artigo 19:
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Todos sabem o que é opinião pública?
São curiosos os enfoques nos noticiários dos jornais e telejornais da capital sobre o caso Yeda, a quadrilha e o STF. Para alguns, tudo é inocência e presunção de inocência. Para outros, Yeda já é culpada, haja o que houver.
O leitor mais atento de um Correio ou ZH sente bem a diferença. O grupo RBS está pegando pesado. Quem diria.
Dizem que a origem do conflito, na capital, está no rateio das verbas publicitárias e o desconforto causado no grupo hegemônico, que queria abocanhar a fatia mais expressiva para si. Yeda não teria cedido à cantilena de maioria nisso e naquilo; e só isso explicaria a posição pesada do Grupo RBS em contraposição às suavidades do Correio do Povo.
A própria Mônica Leal, que é jornalista, me disse que o despejo do governo federal em publicidade é grande e isso é que tem motivado o jornalismo excessivamente crítico da turma de Lasier Martins.
Aliás, não são poucos os que sustentam essa tese, alguns até no campo conspiratório. Talvez seja um pouco dos dois: o rateio e as verbas publicitárias do governo federal. E, finalmente, quem sabe, a pressão da opinião pública.
Mas, finalmente, numa coisa estou de acordo com o Senador Duque, do RJ, presidente do conselho de ética do senado. A opinião pública é volúvel, é tudo o que ele tem repetido ao arquivar as sucessivas denúncias contra Sarney. Não sei que formação tem esse senador e nem sei se ele sabe alguma coisa sobre opinião pública. Concordo, em tese, com a volubilidade. Mas fico pensando, cá com meus botões: imaginem um discurso bem formulado, do ponto de vista sociológico, sobre a assim chamada opinião pública na boca dessa turma da comissão de ética? “Opinião é pública não existe”, e estaria feito o estrago nos grupos que detém o suposto monopólio dessa.
Duque, o senador, é até gentil ao dizer que essa é volúvel. Nessas alturas do jogo, o negócio é editar o contraditório atacando as bases da sistematização da formulação discursiva dos que dizem falar em nome da opinião pública, no caso, a Folha, o Estadão...É claro, aqui também falamos em nome da opinião pública. Essa, assim como a ética de Manpituba, é passível de construções para todos os gostos. E esses, subordinam-se aos sabores ideológicos de quem produz, sistematiza e reproduz os discursos.
Outro dia, o senador Guerra dizia que a imprensa são os olhos e os ouvidos da sociedade. Pura bajulação, duvido que ele próprio acredite nisso.
A imprensa representa segmentos da sociedade, mas daí dizer que essa forma “opinião”, existe um abismo. Talvez induza comportamentos, mas a formação da opinião pública é algo bem mais complexo. Acredito que pessoas como o Juremir Machado, realmente influenciem comportamentos. Mas num Estado com mais de 10 milhões de habitantes um jornal de 150 mil exemplares, como é o Correio do Povo, raramente 10% dos leitores lêem a coluna de Juremir. E desses 10%, que sejam 15 mil leitores, 60% deles sequer entendem o que lêem. Complicado.
Tem pessoas que pegam o Correio do Povo (o exemplo é apenas hipotético) é vão direto aos esportes. Outros tantos, preferem à área policial. Existem outros, que lêem política e outros somente horóscopos e palavras cruzadas (e a programação das novelas e resenhas dessas).
E vamos ser coerentes, até hoje nunca vi um dono de jornal não mentir sobre a dita tiragem do seu veículo. Tomara que os índices apresentados sobre Correio e ZH sejam verdadeiros. E mesmo que sejam, convenhamos, são tiragens baixas, considerando a população total do Estado. E os institutos verificadores – afinal – são sérios.
Decorre daí o fácil entendimento de que a opinião pública é mesmo um conjunto disforme de interesses, tendências e volubilidades. E viva o senador Duque. A forma como são escritas as matérias, mais simpáticas ou menos simpáticas a determinados assuntos, induzem, sim, a tomadas de posições. O leitor menos crítico se deixa levar ou influenciar pelo conteúdo do que lê. É claro, tudo associado à boa ou a má vontade da identidade ideológica. Os tucanos têm orgasmos digitais com Políbio Braga e os petistas com o RS Urgente. Poderia ser diferente? Eu não acredito. Somos assim, manipuláveis, influenciáveis, voláteis, conduzidos e guiados pelas grandes formulações ideológicas. Essas – sim – formadoras de opiniões, embora as pessoas sequer percebam, eis sua razão de ser.
Pastores evangélicos, pais de santos, padres, cartomantes, espíritas, gurus ... influenciam comportamentos. E suas orientações e opiniões pesam enquanto a expressão moral que eles representam e reproduzem. Afinal, eles são a corrente, o elo entre Deus e a sociedade, absolvem e condenam; e sua força é sabidamente mais expressiva que a Justiça enquanto poder constituído do Estado.
Dentro dessa perspectiva, os políticos precisariam desviar o foco do entendimento de que somente a imprensa forma, cria, mexe, sei lá o que, na opinião pública. Aí estão as outras forças, embora desprezadas, mas sempre formando opiniões, ditando regras e influenciando comportamentos. A tese do “perdão” e do “arrependimento” pregada pela moral religiosa tem um efeito devastador sobre a ética puritana, afinal uma condena e outra absolve, embora a segunda seja apenas a ciência da primeira.
Os políticos deviam – também – ratear as verbas públicas de publicidade entre os pais de santos, pastores e outros tantos que mexem com fatias sociais. E isso é sério. Errado é apostar só na imprensa. Essas outras forças estão aí desafiando as convenções e apontando para uma nova formulação. E nem vou falar na força de escolas de samba, músicos, artistas, bicheiros, líderes comunitários, sindicais e associativos, faculdades, escolas...
São apenas reflexões para os leitores do blog. O que estou propondo é apenas um exercício mental sobre a origem dos nossos pensamentos e posições políticas na sociedade.
De onde vêm nossos valores?
De onde vem a ética que está arraigada em nós?
Por que é que eu penso assim e não penso assado?
Quem é que faz a minha cabeça?
Por que sou PSDB e não sou PT?
Por que é sou espírita e não evangélico?
Por que eu odeio o MST?
Por que eu sou colorado e não gremista?
Por que eu acredito em Deus e na vida eterna? Quem me ensinou a ser assim? De onde vêem as idéias que temos em nossas cabeças?
Enfim, somos esse emaranhado de idéias e tudo o que eu quis propor com essa reflexão foi pensar se sabemos de onde vêm nossas influências?
Da imprensa?
Ou da família, da sociedade, da escola, dos valores e juízos morais que pairam no tecido social de onde vivemos?
Eu não sei. Apenas estou propondo a reflexão, como parte da imprensa. E para que todos se questionem: o que é opinião pública?