Lorena Duarte
Que não se engane o incauto leitor: o escritor é um mentiroso cínico, degenerado e freqüentemente, adicto nisso.
Não há na literatura senão mentira! Nós, que a fazemos, mentimos prazerosa e deliberadamente. Distorcem-se os fatos, mudam-se as datas, camuflam-se os nomes e pinta-se o quadro. Tornamo-los feios ou bonitos ao nosso bel-prazer e com os instrumentos que temos, mas não é real. É um quadro. E que prazer nessa falta de realidade, nesse espectro de verdade que nos sobra da caneta!
Nada que não se faça o tempo todo, importante dizer. Afinal, que mais pode ser o homem além de um refrator do mundo? O mundo passa por ele e sai outro. As mentiras são parte constitutiva fundamental desta raça. Nada há sem ela: amor, governo, democracia, direito, música, arte, técnica, literatura.
Mente-se para ganhar e para não perder. Mentimos para não nos perdermos.
E mesmo a mais crua verdade passa pela hermenêutica mais íntima e esta, mesmo quando sofredora daquela sinceridade patológica de que sofrem as mulheres que ainda não aprenderam a malícia desta arte, mente.
Eu minto. Confesso. Menti e seguirei mentindo. Quando se tenta a descrição pura, a verdade crua, a literatura não sai. Minto por necessidade de mentir. Minto pra poder escrever, porque quem escreve mente. E ah! como mente!
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Foi baixado do blog SINDICATO DOS ESCRITORES BARATOS. Para ler mais, clique aqui.