domingo, 6 de setembro de 2009

Num domingo sem sentido

Nunca tive certeza da existência ou não de Deus. Na dúvida, ía na igreja (trecho censurado) e vivia em pecado(?). Mas sempre gostei de escrever, ler histórias e contar causos. E quando conto os causos, junto os assuntos, misturo tudo e vou vendo um desfecho final. Tenho andado preocupado com o futuro da minha alma e agora que o Oracy vaticinou que eu sou “cristão”, tenho perdido o sono, e dê-lhe dormium. Hoje estou com a imprensa na cabeça, com o curso torto de direito da URI, com as religiões, ateísmo, almas e um monte de outras coisas.

O ano era 1978. Eu escrevi um texto atacando o governo federal, quase tudo copiado dos caderninhos políticos de Pedro Simon, Rosa Flores, João Gilberto Lucas Coelho e Nivaldo Soares. Passava no mimeógrafo da Escola e depois ía distribuir no ônibus de transporte municipal.

Foi por causa dessas panfleteações que acabei, pela primeira vez, depondo na delegacia de polícia. Quem procurar pelos meus registros e ano vai encontrar. Lembro-me do delegado, magrinho, baixo, cabelos semi-grisalhos. Queriam saber quem fazia os panfletos.

Já naquela época eu era ávido por escrever. Também, fazia panfletinhos de matriz escolar, atacando os vereadores de então. Longos anos.

Noto que quem escreve quer ser lido por alguém de alguma forma. Por bem, ou por mal.

Em abril de 2004, criei o meu primeiro blog, só que ali postava meus textos mensais, publicados no jornal A Hora. E foi só no ano seguinte, em 2005, que passei a escrever diariamente pela via digital.

Escrevo pouco, mais leio do que escrevo. Muitas vezes, entro em crise com a escrita e vivo momentos perturbadores. Revoltas, questionamentos, vontade de chutar o pau da barraca. Outras vezes, vivo intensamente minha participação cidadã e exerço tudo escrevendo, opinando, sugerindo, questionando. Domingo, devido o descanso, é dia de relaxar na escrita, então...

Às vezes, recebo um elogio. Recebo dezenas de denúncias e – diariamente – recebo dois ou três e-mails apócrifos, com ofensas de todos os lados. Fico quieto, mas tenho dificuldades honestas de entender de onde vem tanta fúria.

Escrever, ter opinião, expor-se, é muito complicado. Sei bem que existe um viés light no jornalismo, onde as notícias apresentadas são apenas cópias de releases enviados por assessorias ou são baixadas de sites de terceiros. Aliás, outro dia, enquanto eu almoçava, assistia um senhor vendendo publicidade do jornal dele ao Ângelo, da Gaúcha. Ao término de tudo, Ângelo me dá um exemplar do jornal. Corro os olhos e formo um juízo. Fico quieto, apenas guardo para mim. Acho tudo patético, mas, enfim, a sociedade medíocre em que vivemos legitima, por ignorância, uma série de excrescências ligadas à comunicação social. Os fatos são apresentados por fruto e obra redacional de quem tem interesse na divulgação da notícia. O resto, é colagem, (já que agora é moda essa expressão), inclusive, sem citar o autor de fato da matéria. E esse expediente começa pelos grandões e desencadeia um procedimento em série até os pequenos. É o vale tudo. Essência, conteúdo, duvido que tenhamos dez ou doze num universo de 50 mil moradores de Santiago. O resto é tudo babaquice, olham a forma, a aparência, e pronto.

Quando eu digo que vivo em desacordo com a sociedade, estou dizendo que é preciso abrir os olhos. Em todos os segmentos de Santiago: imprensa, universidades, escolas, poetas, intelectuais, padres, pastores, enganadores e mentirosos de todos os matizes.

Eu terminei a faculdade de direito e fui fazer um cursinho preparatório. Na primeira semana de aula, trouxeram do douto de Santa Maria. Tomando-nos por imbecis, sustentou que “cargo” e “função” eram a mesma coisa. Casualmente, lembrava-me bem do projeto do Collares reestruturando cargos e funções no âmbito do funcionalismo. Então, perguntei novamente e fiz questão de frisar para toda a turma ouvir: “então o senhor está dizendo que cargo e função é a mesma coisa”. Ao que ele sustentou positivamente. Fiz o que me restava, fui embora e nunca mais voltei naquela picaretagem.

E assim é quase tudo aqui em Santiago. Meses atrás, recebi uma ligação de uma moça que vendia troféus de melhor disso e melhor daquilo. Segundo ela me dizia que havia ganho de melhor assessor de imprensa. O prêmio era 300 reais, podendo ser pago em 3 vezes de 110 reais. Aí perguntei a ela quem tinha me escolhido e ela respondeu que tinha sido o povo. Aí perguntei como foi à metodologia da pesquisa e ela respondeu: simples, nós saímos ouvindo as pessoas nas casas. Aí eu perguntei: essas pessoas foram extratificadas por segmento ou foi uma tomada quantitativa? Aí, ela me foi taxativa: “talvez o senhor não queira o prêmio, mas outro pode querer”; já em tom de ameaça, dizendo que seu eu não comprasse outro compraria. Só não quis ser indelicado com uma pessoa humilde e que estava ali tentando sobreviver, ganhando a vida, picareteando.
Agradeci, até por que não tinha mesmo dinheiro, mas fiquei pensando com meus botões.

Outro dia, lia uma carta da Oracy Dornelles onde ele me define como “cristão”. No fundo, eu não ligo para rótulos. Ser cristão, ateu, ou diabo que o parta não muda nada do que eu penso. Talvez eu seja mesmo cristão, talvez o Oracy tenha razão. Só que eu nunca vi, até hoje, uma religião decente. Todas querem é captar grana das pessoas, são vagabundos que não trabalham, usam o nome de Deus, manipulam com a fé e o sentimento de religiosidade das pessoas e fazem disso uma forma de vida fácil para si e para os seus familiares. As religiões cristãs são uma farsa. Quando não estão lá por golpes e malandragens estão lá para esconder problemas sexuais, seja da natureza que for. Religião – aos meus olhos – é comércio puro, golpes, vigarices.


E vamos lá – até admito – que existe pureza em algumas manifestações religiosas. É claro que existe, aí está o espiritismo. Só que o Oracy não entende que eu não consigo mentir sobre religião. Por mais que eu me esforce, não entra na minha cabeça as teses e os pressupostos espiritualistas. E como seguir algo se eu não creio? É claro, eu vivo numa sociedade onde a gente fala em materialismo e todos logo associam a bens materiais, pois só tem isso na cabeça, logo, concluo que é mais fácil ficar omisso, como tenho feito, senão eu me hostilizo com toda a cidade.

Mas na mesma carta, o Oracy levanta a questão do suicídio. Cristãos, que querem salvar a alma do inferno, temem o suicídio. Já eu, vejo tudo como parte da liberdade individual. Cada qual faz de sua vida o que bem entende. Senão, aí estão os juízos morais e as religiões oprimindo e desgraçando as pessoas até pela escolha sexual. Prefiro achar que todos os seres são livres para escolherem o que bem entendem, seja no campo religioso, seja com campo sexual e afetivo, seja no trabalho e em todas as escolhas. Falo na bíblia e em Jesus como fontes históricas, mas não acredito em divindades e revelações. Até acho que o judeu Jesus Cristo existiu. O fato de eu achar que toda essa lorota de filho de deus é manipulação grosseira, para envolver os tolos, muda alguma coisa na minha vida? E, é claro, entendo bem os jogos que se derivam dos juízos morais e a questão ética oriunda das religiões. Max Weber e a ética protestante que o diga.

Mais dias ou menos dias eu vou morrer. Aí todas essas figuras ridículas vão encher a boca e dizer que minha alma está no inferno. E será sempre assim. Eu não sou desse mundo. Se eu fosse professor do curso de direito da URI não teria cara de dar aulas vendo todos os alunos indo ridiculamente mal nos exames de ordem, seleção após seleção. Pediria demissão, me enfiaria numa vila qualquer e ia comer batatas fritas com suco de laranjas o dia inteiro. Diria? xô palhaçada, professores fingindo que ensinam e alunos fingindo que aprendem. (Me perdoem as exceções, tenho reiterado que meu amigo Barbará é o melhor professor do curso e têm outros bons, só que eles sozinhos não fazem milagres).

Mas não é tudo assim: pastore$ e padre$ fingindo que salvam almas e nós, as almas, bem, nós somos como carneirinhos, somos levados, levados, levados, levados. O último ritual dessa leva é com nosso próprio corpo. Levado dentro de um caixão para o cemitério, onde vamos apodrecer e virar pó. É claro, antes da consumação desse corpo mortal nossa alma salta ... e aí recomeça tudo de novo. Ou não?

Alô meus amigos Cassal e Arthur Vieiro, na outra encarnação eu quero vir jornalista. Quero me estrepar ao extremo, descer nos porões, e depois conhecer a Lizi, juntar um cachorrinho de rua, parecido como Totó e abrir um blog. E ficar enchendo o saco de todas as elites e todos os que se acham. E nos domingos, para fazer o coro social das coisas leves, dou uma navegada diferente, só para irritar.