É certo que todos os mortos ficam bons. É a regra. Mas eu não vivo de regras, vivo de exceções. E é por isso, justamente, que vou falar da Dona Judite Nicola, uma mulher que nos deixou e que sempre me marcou. Talvez ela nem soubesse, mas eu a admirava muito e a admirava justamente pelo perfil de mulher, mãe, arquiteta do lar, companheira, amiga e pessoa altamente querida na sociedade.
Conheci-a, talvez, a uns 35 anos atrás. Sorriso doce, meiga, instrospectiva, era mais observadora do que qualquer outra coisa. Falava pouco, mas sempre o necessário e na medida certa. Sua missão foi a ser uma companheira leal, uma mãe exemplar. Talvez tivesse lá seus problemas, como todos nós temos, mas não deixava transparecê-los. Era sempre uma rocha, e, na mesma dimensão, um doce de pessoa.
Imagino que o Alceu, os filhos, os parentes e amigos, estejam todos abalados e sofrendo. Deve ser muito difícil a volta dele ao lar, após o sepultamento da companheira. Imagino a extensão do vazio, a dor, a agonia, a falta.
A morte tem sempre esse mistério. Entretanto, umas representam mais, outras menos. O mais, ocorre justamente quando estamos diante de símbolos, como era o caso de Judite. Não sei para os outros, mas para mim que a conheci, foi um símbolo forte e gigante.
Perdemos uma pessoa em nossa sociedade cujo peso esteja justamente em sua leveza. Sua despretensão era tanto que acabou sendo aquilo que de mais exemplar existe na vida de uma mulher e mãe. Soube agregar e ser o esteio necessário. Ficou o vazio e uma tarde chuvosa, escura, triste. Com o barulho da chuva, ecoa um eco de tristeza em todos nossos corações.