sexta-feira, 26 de março de 2010

Mulher empreendedora. Premiam-se algumas e discriminam-se a todas

Eu não concordo com esse PRÊMIO, MULHERES EMPREENDEDORAS, patrocinado pelo Poder legislativo municipal. Acho que a intenção de homenagear uma ou outra mulher, visando prestigiar à condição de mulher que empreende na sociedade onde vivemos, acaba-se mesmo é discriminando a totalidade das mulheres santiaguenses.

Começa que cada vereador, por partido político, indica uma mulher e isso vale por todo o ano. Que critérios os vereadores usam para tais indicações? Duvido que alguém saiba e cada um inventa um. A rigor, a sistemática metodológica da escolha é tão subjetiva que o critério leva em conta quase sempre o apadrinhamento político/partidário. O Vereador Bassin, indicou a Professora Eleonara Lang Vallandro. Ela é esposa do Médico Vallando, do PSDB, é filha de um cacique político, é influente e tudo mais. Faz jus. O Vereador Everaldo Gavioli indicou Cleide Irion Fumaco, irmã do trabalhista Cleudo Irion.

Atenção, não estou questionando o mérito das indicadas, não se trata disso.

Estou questionando os critérios que pautam as indicações e a violenta discriminação que se pratica contra todas as outras centenas e milhares de mulheres de nossa socidade, que são realmente empreendedoras, batalhadoras, heroínas no dia-a-dia de suas missões, mas que por não estarem na órbita de influência dos partidos políticos sequer são nominadas em funçao de suas lutas. E vão morrer, anônimas, sem ter o reconhecimento do poder legislativo de sua cidade.

Na verdade, isso é um baita proselitismo institucional, afinal se usa um poder do Estado para fazer política demagógica e eleiçoeira. Duvido que a eventualmente indicada não fique - pelo menos - com uma dívida de gratidão com o vereador que a indicou. Nem estou sugerindo que ela vai virar capitã eleitoral do padrinho que a faz tão meritosa a ponto de receber tão nobre distinção.

Fico questionando o que devem pensar as milhares de mulheres anônimas, mas que são realmente empreendedoras em nossa cidade, ao nunca verem o fruto do seu trabalho ter o mesmo reconhecimento que outras apadrinhadas têm?

Será que aquela senhora que vende churros na rua, faça sol ou faça chuva, que luta contra um câncer, será que ela é menos empreendedora que a Eleonora Lang Valandro?

Será que aquela senhora que luta com diginidade, vendendo seus docinhos no calçadão, é menos empreendedora que a Cleide, que tem uma loja luxuosa no mesmo calçadão?

Será que a esposa do seu Salmerom, que diariamente, ano após ano, sem férias, vendendo xis para manter a família e dando a devida sustentação moral aos filhos e a família é menos emprendedora que Ana Rita Viero Bazana ou que Vera Durgante?

Será que a Dona Terezinha, a Tere, catadora de lixo, mãe de 6 filhos, que anda no dia-a-dia de nossa cidade, puxando seu carrinho e recolhendo lixo nas casas, é menos empreendedora que qualquer uma das agraciadas?

Eu sei como são as construções discursivas para justificar isso e aquilo. Sei que cada vereador tem uma desculpa para sua eventual indicação. Sei bem como são as convenções dentro das instituições. Sei que as intençoes são boas, e que é tudo tão puro que até soa ingenuidade. Sei que nossos vereadores são decentes, honrados e sei que o nosso parlamento é limpo. Só me reservo o direito de questionar certas convenções legais que eu acho absurdas. Uma coisa são prêmios privados, aí cada um faz o que quer. Agora, quando envolve o poder público, que em tese representa a todos e a todas, não se pode aplaudir a indicação de prêmios individuais e a adoção de um processo discriminatório coletivo.

Afinal, ao premiar dez mulheres, apenas, por ano, diz-se que outras milhares não são merecedoras de tal reconhecimento pelo poderes da cidade onde moram, embora os discursos, uníssonos, vão dizer ao contrário. E esse é meu juízo e ele vale para qualquer poder dos entes federados.