Bem, assistindo a espetacularização do tribunal do júri, em São Paulo, onde o casal Nardoni foi julgado e condenado, fiquei seriamente impressionado. Por quê?
Primeiro, talvez com minha própria burrice, na minha cabeça dava absolvição. Segundo, é claro, eu não entendo nada de direito penal e sequer consigo trabalhar esse palavreado técnico/jurídico. Mas, pela relevância que o caso assumiu, em nível nacional e pelas leituras diárias que faço da Folha e do Estadão, forjei uma consciência às avessas a dessa grande massa que foi para frente do FORUM torcer pela condenação e gritar em defesa da promotoria.
Não consegui me convencer de que haviam provas capazes de sustentar uma condenação. Por outro lado, também não consegui me convencer de que Alessandre Nardoni realmente tenha assassinado sua filhinha. Mas não consegui mesmo. E nem acredito que ele e Ana Carolina tenham praticado e assumido um crime, em conjução tão grande complicidade, que em nenhum momento, nem na fase inquisitorial do IP, nem na fase judicial, tenham entrado em contradição, em conflito um com o outro. E preferiram destruir suas vidas, assumindo penas absurdas e mesmo assim um não quis denunciar o outro. Aliás, vendo as viaturas policiais, conduzindo-os ao presídio, mais me convenci da complexidade desse caso.
Vamos em frente. Por outro lado, cada vez que ouvia o advogado de defesa, em suas entrevistas desastrosas, impressionava-me com sua fraqueza, com sua incapacidade de construir raciocínios consistentes. Já o promotor, extremamente lógico, coerente, firme, articulado, convincente. O prelúdio de condenação aflorava em face dessas duas posturas tão distintas.
Faltou um Ronald Miorin por lá. Com certeza. Aí o embate seria diferente.
Na minha cabeça as dúvidas eram tantas, que só por isso já daria absolvição. Nunca vi provas consistentes. Esse caso vai marcar nossas vidas. Talvez um dia, tenha uma reviravolta sensacional e aí todos faremos uma autocrítica. Talvez nunca haja essa reviravolta e tudo fiquei assim mesmo. Talvez, pode até ser isso, tudo tenha sido feito mesmo em conjunção de esforços entre Ana e Alessandre e ambos tenham mesmo assassinado a pequena Isabela, aí o júri estaria certo e a torcida popular em frente ao Forum eivada de razão. Sei lá.
Agora, se não foram eles?
A rigor, qualquer um de nós pode cair numa trama assim. Por bem ou por mal. Culpado ou inocente. Como a vida é complicada em suas voltas, qualquer coisa pode acontecer atravessando nossos destinos. Tomara que o drama Nardoni nunca atravesse nosso caminho. Que cruz. Que sensação angustiante.
