sexta-feira, 18 de junho de 2010

URI: um balanço do que foi e o vir-a-ser. Elementos críticos ao debate

Até agora vão vi os documentos, críticos ou não, analisando o resultado eleitoral da nossa universidade. Vou fazer o que sempre faço: puxarei o debate e sei que o movimento caudatário se engaja, nem que seja para me atacar (afinal, é sempre assim).

Esse breve texto, simples como é peculiar a veia digital, mescla impressões políticas e pessoais com alguns elementos do debate que pautam a batalha de idéias. Confesso que achei o debate pobre, esperava que os temas nacionais da educação superior viessem à tona, e isso não aconteceu. Mais uma vez, a URI virou uma ilha, descontextualizada e isolada. Isso é um péssimo começo.

O maior erro da atual administração foi não se aproximar do governo federal. O debate repetiu esse erro. Eu expus a Professora Rosâni, que, afinal, agora será nossa representante na Reitoria, acerca da necessidade de envolvermos verbas públicas – em grande montante – dentro da Universidade, nem que seja fazendo uma grande PPP(independente do ente público) com as licenciaturas e instituindo uma gestão semi-pública ou outra modalidade similar. É estéril a atitude de insistir em manter a máquina universitária azeitada apenas com os parcos recursos das mensalidades, ainda mais diante de uma extraordinária oferta de vagas públicas. Mesmo com o plano rubi, as mensalidades das licenciaturas ainda são caras. Precisamos evoluir o debate para fornecer licenciaturas gratuitas. E precisamos cavocar uma saída, de um jeito ou de outro, que o governo federal compre as vagas nas licenciaturas. E pronto. Eu sei que no MEC existiam resistências quanto a seriedade da URI e meu amigo Amir Limana, quando coordenador nacional do ENADE, chegou a me dizer que eles viam a URI como uma empresa familiar. Isso é gravíssimo e complicado, mas creio que – agora – com uma nova visão administrativa, terminando com a idéia de cabide de emprego familiar, talvez seja possível melhorar um pouco nossa imagem. Transparência, modernidade e QUALIDADE devem ser nossas teses norteadoras a partir de então.

Por outro lado, precisamos também pensar em injeções de recursos privados de empresas como AES SUL, SICREDI, BANCO DO BRASIL (não se esqueçam que o BB é uma empresa de Economia Mista), HSBC, Stora Enso, COCA-COLA, Votorantins ... E romper com a miséria. Chega de choradeira, as pessoas aqui em Santiago precisam botar a cabeça a funcionar, alternativas precisam ser criadas, se não dá de um jeito, inventa-se outro.

O debate eleitoral não apresentou soluções e ficou restrito a um jogo de “quem sabe mais” sobre o que pode ou não ser dado em ofertas, descontos e assistencialismos. Precisamos parar de pensar em cima do óbvio.

Repito e insisto: se não forem feitos investimentos em qualidade do ensino superior na região, inclusive em pesquisas de ponta, seremos engolidos radicalmente pela presença de qualidade dos IFETs, das federais e das estaduais (é bom não esquecer que com Tarso ou Fogaça a UERGS ganhará fôlego de novo).

Eu não conheço o professor Padilha, mas conheço o Chico e a Michelli, sei que ambos representarão à abertura. Chico pode não ser um revolucionário, sempre disse isso, mas ele é aberto às transformações, não é fechado as soluções inovadoras e tenho muita esperança que ele e Michelli conduzam a URI por um caminho diferenciado; e tenham bem claro o peso de todos os elemento modernos que estão incidindo no debate universitário, inclusive o telemático.

Confesso que achava muito difícil a chapa de Chico ganhar de Dona Aida. A atual administração estava muito desgastada devido a forte crise socioeconômica que se abateu em nossa região e isso se refletia diretamente na universidade. Aluno que paga a mensalidade – via de regra – odeia a administração e uma eleição é sempre um momento de vingança para externar a opressão do bolso. O resultado final de 700 votos para Aida e 523 pró-Chico entre os universitários é quase inédito, geralmente dá 3 ou 4 por um. Isso nem é diferença. Aluno de universidade privada sempre vota contra a direção, essa é a regra, a votação de Santiago, foi exceção. E nem estou falando numa professora do curso de Direito, que – ardilosamente – dispensou os alunos das aulas, pois sabia que eles votariam com Chico e Michele.

A grande verdade é que essa eleição mostrou o quanto são acesas as paixões santiaguenses pela política. Em nenhuma outra cidade onde existem eleições para uma universidade se viu tanto engajamento da sociedade. É claro que foi uma disputa política e não podemos ser cínicos em negar isso, embora às exceções. Quase toda a oposição de Santiago estava com Aida, (quase toda) e quase toda a situação municipal estava com Chico (quase toda, porque tem muitas exceções). É claro que tinham muitos petistas (inclusive professores) com Chico, isso era visível. Mas também tinham pepistas com Dona Aida, a começar pelo jovem Rafael Nemitz. E pelo visto, Dona Aida tinha mesmo um voto na mesa da câmara, na mesa pepista, isso ficou claro no escrutínio.

O comentário do filho da professora Aida, cumprimentando o professor Chico: - “Parabéns pela vitória política” soa uma baita contradição, na medida em que a professora é filiada ao PDT e quase toda a oposição de Santiago apoiava sua chapa. Isso é claro de um lado que tenta justificar a derrota acusando o lado vencedor de ter apoio político, quando ambos os lados tiveram, de um forma ou de outra, direta ou indiretamente. Negar isso é cinismo e despolitização.

Chama muito a atenção o posicionamento de dois grupos dentro de universidade. O primeiro deles, no curso de História, onde estão às cabeças mais preparadas da universidade, o núcleo do pensamento crítico universitário, e digam o que quiserem, mas a Professora Rosangela Montagner é uma pessoa que sabe, tem preparo, é bem formada, é inteligente...e ela e seu grupo, aliás, todo ele petista, estava mesmo com Chico, inclusive na festa da vitória. Isso merece ser bem analisado. Já o segundo grupo a se posicionar, majoritariamente, ao lado de Chico, foi o do curso de direito, onde os professores votam em Dilma e Tarso, são de esquerda, altamente posicionados, inclusive um expoente como Elbio Ross, recentemente vindo do doutorado na Espanha, reconhecido tanto aqui quanto em Santa Maria por suas posições de esquerdas, todos eles, diria que 95% deles, estavam abertamente com Chico. Curiosamente, o pequeno núcleo pró-Aida é sabidamente tucano.

Mas o que leva um curso inteiro a tomar uma posição?

Seria apenas o fator Michelle Noal Beltrão? É claro que não. Michelle é conhecida por sua liderança, sua dedicação, mas – convenhamos – ela não é CRISTO. Essa unidade esmagadora no curso de Direito, insisto que beira os 95%, tem lá suas sérias razões. Por que todo um colegiado, que têm as melhores cabeças, são os conhecedores do aparato jurídico do país, operadores do direito, conhecem as leis melhores que ninguém em Santiago e região, por que é que eles ficaram com Chico, majoritariamente?

Essa pergunta não é simples de responder. Existem motivos que levaram esses professores e professoras a uma tomada de posição de forma quase unânime. Quais seriam?

Primeiro, eles, por entenderem de leis, desde logo viram o quanto era furado o discurso da oposição no que toca a ENEM, PROUNI, política de descontos e bolsas. Nesse particular, o discurso de CHICO era muito pontual e de Aida altamente impreciso. É claro que a professora tentava fazer média com os alunos, adotando uma linha discursiva paternalista e assistencialista (era tudo o que os alunos queriam ouvir) mas os professores de direito não servem para bobos e logo passaram a repudiar a linha discursiva da oposição, até mesmo os que lhes eram simpáticos.

Segundo, o direito se debate muito a questão do nepotismo, empreguismo e tudo mais. A professora Aida foi sincera demais, ela não poderia ter reafirmado velhas práticas cometidas no passado, foi um monstruoso erro tático, quase um erro estratégico de campanha, fatal para um público que sabe bem sobre imunidade tributária constitucional, lei de fundações e tudo mais. Ademais, Chico apresentou-se dentro da legalidade, deu um discurso politicamente correto e isso cativou e seduziu esse público altamente seleto.

Terceiro, Chico e Michele, embora não no nível desejável, mas contextualizaram o debate e a linha discursiva, enfocando a URI na moderna conjuntura do ensino superior do país, no contexto das federais, IFETs e virtuais, que abriram notória concorrência com a URI. Repito: tangenciaram esse tema, mas não o aprofundaram. Mas também nisso foram bem melhores que Aida e Sandra, que apostaram sempre no discurso demagógico e populista para a massa alienada das licenciaturas. Gerou um fundamentalismo, nada mais que isso, mas não conseguiram avançar sobre os setores mais politizados da universidade.

Outra questão que chama muito a atenção, mas muito mesmo, é que os promotores e juízes, com direito a voto, simplesmente não quiseram ir votar, nem da justiça estadual, nem da justiça federal, nem da justiça do trabalho. Seria mera coincidência nenhum deles ter ido votar ou teria sido uma decisão tomada em conjunto?

É claro, só eles podem responder por isso, mas é claro, que essa eleição teve muita baixaria, as denúncias se avolumaram, imagino eu que eles devem ter pensado que era melhor nem se meterem.

Por outro lado, o regulamento que regeu essa eleição é de 1991, um regulamento ridículo, discriminatório, que assegura ao bispo católico o direito ao voto, como se todos os alunos da universidade fossem católicos e como se o catolicismo fosse absoluto, só por isso inconstitucional. O peso proporcional dos alunos também é pífio e precisa ser modificado para a próxima eleição.

E entre os funcionários, a vitória de CHICO não deixou dúvidas, corroborou apenas o que já sabíamos: que existia seriedade no trato com as pessoas que trabalham na instituição.

Pessoalmente, já disse que achava muito difícil esse embate, tais eram os tentáculos da professora Aida com seus múltiplos cabides, que Clovis não os desarmou, e ainda o peso de uma linha discursiva que invocava quase um papel de deusa na construção da URI e do ensino superior em Santiago. Mas, as críticas contra ela também foram muito pontuais, bem formulados e tiveram o resultado que se esperava. A vitória de Chico, mesmo apertada entre os professores, não deixou dúvidas na medida em que ganhou na comunidade e nos funcionários. A derrota entre os alunos, era altamente previsível e a vitória de Aida ainda foi muito apertada no meio desses.

A URI está numa situação muito delicada aqui em Santiago; está cercada pelas federais, pelos IFETs e pelas virtuais. Sua aposta precisa ser muito dura e firme na modernidade, na qualidade e na criação de diferenciais de impactos. É preciso sair do campus, entrosar-se com a comunidade, prover outros meios de financiamentos afora as mensalidades, apostar na pesquisa de ponta e saber diferenciar-se.

É um desafio e tanto que Chico, Michelle e Padilha terão pela frente.

O blog, que vai para o sétimo ano de atuação em Santiago, deu sua contribuição. Sempre sem medo de tomar uma posição firme e decidida, contribuiu com o debate, esclarecendo algumas versões; mas, sobretudo, jogando teses para as análises críticas e opiniões. Agora, enquanto for possível, nossa contribuição será de apoio crítico a Michelle, Chico, Padilha e Rosâni, mas seguiremos lançando elementos ao debate e, sobretudo, contribuindo para o aperfeiçoamento do ensino superior em nossa cidade, especialmente na busca de linhas de investimentos e outras formas de financiamentos do ensino comunitário. E não estranhem os oportunismos de que nunca, durante todo o período eleitoral, teve coragem de dizer uma linha sobre a eleição, agora estejam querendo apontar culpados e criticar esse e aquele. Desconfiem desses e também dos que saltaram para o colo do Chico...depois de conhecidos os resultados, e não são poucos.