"Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras". Declaração Universal dos Direitos Humanos - Artigo 19:
domingo, 25 de julho de 2010
O ninho do PP e a prática do chupim
Algumas pessoas, no senso comum, imaginam que as relações políticas são abstratas, que elas existem por si só, independentemente da ação e da intervenção do indivíduo.
Outras tantas, imaginam que o investigador social, ao fazer uma análise de uma estrutura partidária, o faz movido por paixões e simpatias.
Embora reconheça que não exista neutralidade científica, e eu sou – por formação – um analista social, insisto na tese de que existem fatos sociais e políticos que são tão evidentes que não precisa ser analista social para reconhecê-los.
Em 2005, lancei um livro intitulado PAMPA EM PROGRESSO, onde fiz uma breve reconstrução histórica do PP santiaguense; ademais, analisei ali a origem nacional, estadual e local do PP, suas formas de inserções político/partidárias, os vínculos que geram a unidade partidária, a origem da pegada, a tradição e o tradicionalismo, a fidelidade a velhos vínculos, a ancestralidade e a valorização da origem, até a identificação de um certo culto e respeito as vozes de comando dos mais velhos e mais vividos. (E o fato de eu escrever e analisar não quer dizer, necessariamente, que eu concorde)
Diversos amigos meus, Doutores em ciência política, doutores em sociologia e conhecedores da sociologia política, leram esse livro e confesso que todos foram unânimes em reconhecer o fenômeno que se criava em Santiago, afinal levantei – inclusive – que ao disputar a hegemonia da sociedade santiaguense, o PP lançava mãos de instrumentais gramscianos, e frisei, que os mesmos pudessem ser até imperceptíveis, tal era a eficiência dos resultados.
Por tudo, quando falo e escrevo sobre partidos e estruturas partidárias, falo e escrevo com base teórica e acadêmica, porque pesquiso e investigo, porque tenho produção teórica sobre o assunto e tanto quanto possível, desvencilho-me de paixões pessoais, deixando fluir em minhas análises constatações, às vezes, óbvias e evidentes.
O PP local, tendo perdido o controle da administração para o grupo de Vulmar Leite e Paulo Rosado, na eleição de 1992, tratou de reerguer-se e não mediu esforços para reconquistar legitimamente o poder. Na sucessão de Vulmar Leite, em 1996, lançou Toninho e Chicão e partiram para o embate aberto, para o enfrentamento com Vulmar Leite, com Paulo Rosado e com as oposições locais.
Toninho já tinha sido vice-prefeito de Santiago, já tinha sido presidente da Tritícola e sua vida sempre foi um exemplo de honradez e dignidade. Chicão, até então desconhecido da política local, era um líder ligado aos desportos, mais especificamente, ao futebol. O mérito dos velhos caciques do PP consistiu em fazer esse enlace entre o tradicional, representado por Toninho, e o novo, emergente dos esportes e desvinculado da vida partidária, representando pelo então jovem engenheiro José Francisco Gorski, ex-atleta e ex-presidente do Cruzeiro.
O resultado todos já sabem. O PP venceu Paulo Rosado, derrotou Vulmar Leite e todas as oposições unidas. A partir daí inaugurou-se uma nova forma de gestão pública, dessectarizou-se a política local, adotou-se uma linha de gestão pública voltada para os setores mais pobres e oprimidos de Santiago, adotaram-se linhas de intervenções públicas comprometidas com o social, e a partir do lastro desse trabalho, vieram as sucessivas vitórias, seja com Chicão na sucessão de Toninho, na reeleição de Chicão e recentemente com Júlio Ruivo, que também representou o novo na medida em que formou a dupla com Chicão em 2000.
É amplamente consensual Estado afora, principalmente nas hostes pepistas, que o PP de Santiago é um dos mais eficientes do Estado, é a máquina partidária mais bem azeitada do Estado, ademais, legitimada pelas sucessivas vitórias e pela incrível capacidade de absorver a modernidade e adequar-se as inovações, sejam teóricas, no plano da ciência política, sejam científicas e tecnológicas.
É claro que o PP não é dono de Santiago, tanto que convivem que a oposição, com a imprensa e sabem administrar as contradições que se apresentam.
Entretanto, os pepistas éticos de outros locais sabem reconhecer a luta, a construção partidária e o controle de hegemonia que o Partido local soube fazer aos longos dos anos, produto do esforço partidário de todos, reiterado a cada processo eleitoral. E por isso mesmo, respeitam a base territorial de atuação do PP de Santiago.
A ética, nesse caso, é fruto de uma subjetividade reflexa que se expressa na tradição e na ancestralidade. Também não adianta sofismar e dizer que outros locais são abertos e que todos podem entrar. Mas esses outros locais não tem trabalho eficiente e nem vitórias acumuladas, quando muito se tratam de territórios de ninguém, ou de pepistas que nunca souberam construir nada e vivem parasitando a margem da luta dos outros. Sejamos honestos, o PP de Porto Alegre existe como o de Santiago? É claro que não, o PP de Porto Alegre sequer disputa uma eleição majoritária, tal é a baderna do conjunto partidário na capital. Logo, um pepista de Porto Alegre dizer que Porto Alegre é um território aberto é – no mínimo – um blefe. Aberto ao quê, se lá não existe trabalho partidário e nem luta eficiente, não há que se falar em território aberto. Só pode ser aberto na cabeça de quem não entende o que é trabalho partidário e não tem histórico de lutas acumulado.
É claro que a base territorial local não é um curral, não é propriedade de ninguém. Isso ninguém discute. O que se discute, especialmente dentro do PP estadual, é a ética partidária de respeito à luta e a construção partidária locais. Ora, se o PP local vem – ao longo dos anos – de décadas, construindo seu espaço, não é justo que outras lideranças do PP desrespeitem essa luta e essa construção de décadas, e entrem aqui, despudoradamente, e passem o ocupar a mesma Arena eleitoral, como se todos fossem participantes da mesma luta,da mesma Arena e da mesma construção partidária.
No reino animal existem alguns pássaros, o mais conhecido deles é o chupim, que não faz seu próprio ninho, e vive de botar seus ovos em ninhos alheios.
Assim como no reino animal, temos os chupins da política.