sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Blogs são usados para gerar repercussão fora da web, diz especialista

UIRÁ MACHADO, fsp on line
Os blogs políticos no Brasil têm duas características principais: são usados mais para gerar repercussão fora da internet do que como um fim noticioso em si e não se desenvolveram como uma plataforma de comunicação mais democrática, como era a expectativa original.  As conclusões são de Alessandra Aldé, professora da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e especialista em internet e política.
Aldé coordenou uma mesa sobre "Usos políticos das tecnologias digitais" durante o 7º Encontro da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política), realizado de 4 a 7 de agosto, em Recife. Em seu trabalho sobre blogs políticos, fez um mapeamento de estudos sobre o tema e percebeu que a principal característica descrita é o "spinning" --algo como fazer a informação circular.

"Os atores políticos descobriram que o blog pode fazer a informação sair de um círculo restrito para um universo muito maior. Eles publicam nos blogs, mas querem transcender a internet, seja influenciando um político, seja, principalmente, pautando a mídia tradicional."

Essa relação do mundo virtual com o real também existe no sentido oposto, diz Aldé. "No Brasil, os blogs políticos de maior audiência pertencem a jornalistas já renomados fora da internet. Nos EUA, em contraste, os principais blogs são de jornalistas independentes".

Segundo Aldé, essa característica, no Brasil, ajuda a explicar por que os blogs não se constituíram como ferramentas mais horizontais de comunicação.

Além disso, diz ela, são usos não ortodoxos, num formato híbrido, em que os blogs apresentam traços que não são próprios a esse tipo de plataforma --como a associação a grandes portais.
NORMALIZAÇÃO
Entre todos os pesquisadores que apresentaram trabalhos sobre o tema, o consenso é o de que a internet, no Brasil e no mundo, passa hoje por um processo de "normalização". Ou seja, grandes expectativas, para o bem ou para o mal, começam a ser frustradas.

"Os momentos de euforia ou de medo já passaram. Agora, até com o crescente volume de pesquisas empíricas, é natural que exista maior cautela ao tratar do tema", diz Aldé.

Para Sérgio Braga, da Universidade Federal do Paraná, coautor de estudo sobre mecanismos de participação em sites de políticos, essa "normalização" não deve ser vista como má notícia.

"Ainda há muitas possibilidades inexploradas. Mas, sobretudo, não há nenhum indicativo de que a internet esteja causando alguma regressão. Ao contrário, ela agrega valor à democracia."