terça-feira, 17 de agosto de 2010

Por que eu sou maldoso, perigoso e sem caráter?

Hoje pela manhã eu estava retirando uma encadernação de um velho livro de Nicolas Malebranche, intitulado Pesquisa da Verdade, quando um senhor, cidadão da nossa polis, me observava ao longo, por baixo dos óculos. Ao ver que ele me olhava, sorri e cumprimentei-o. Ele veio até mim e perguntou sobre o livro que retirava. Achei estranho, embora o conhecesse de rua, não sabia exatamente quem era ele e falei o que não devia; disse-lhe que gostava do Malebranche porque ele era um ontologista que achava que Deus e Verdade se confundiam. Na real, o que eu queria com esse livro, o que quero, e por isso a encadernação, é lê-lo e tentar entender bem essa construção teórica, pois sempre achei muito interessante essa visão dos ontologistas e - sinceramente - preciso de algumas respostas diante da vida, do mistério da morte, do destino das almas, o espírito...essas coisas.

Mas ele não queria falar sobre o livro. Contou-me então que gostaria que seu neto estudasse comigo e me fez um longo relato de uma discussão que ouviu nesse final de semana. Segundo ele, dois alunos que eu estou preparando, na verdade ajudando graciosamente para o concurso da Brigada, trocavam apaixonadas idéias com outras duas  pessoas. Meus alunos teimavam em cima do que lhes ensinei: que o homem - agora - também pode ser vítima de estupro (antes era só mulher) e que também não havia mais prisão de depositário infiel, permanecendo apenas a questão da prisão civil por dívidas alimentícias. Os oponentes dos meus alunos apenas diziam: quem foi o louco que ensinou isso para vocês?

Não sei como e nem sei quem a família desse senhor consultou, e acabaram todos concluindo que tudo o que os dois alunos que eu preparo estavam certos, absolutamente corretos. O neto dele está pagando um cursinho e ele manifestou o desejo de que eu o formasse. Dei meu endereço e disse-lhe que o ajudaria igualmente aos outros 6 que eu estou ajudando e que não cobro nada pela transmissão do saber e do conhecimento, nada, nada mesmo, nem valor simbólico.

Ontem, sorri satisfeito ouvindo a Silvana, uma moça que passa o dia atrás do balcão, numa loja, replicando como se procedia o encaminhamento de uma PEC, como eram as votações de uma Emenda Constitucional, o rito e o quorum...depois perguntei a eles ponto por ponto do artigo quinto, e notei que eles sabiam tudo, estavam afiados, preparados, sabedores de direitos e deveres. Foram dias e dias a fio, exigência, leitura, atenção...

Pena que só posso ajudá-los em legislação, direitos humanos e conhecimentos gerais, senão já garantiria que ambos estavam aprovados. Aprovados, perigosos e maldosos, porque eles nunca serão mais os mesmos depois de terem sido meus alunos.

Cedo, cedo, muito cedo em minha vida descobri que tinha eu uma inclinação, um dom natural, tinha uma ânsia incomum de compreender a vida em sociedade, as coisas ocultas, as coisas reveladas, a história, os costumes, os ritos, os valores, a subjetividade, as religiões, as ciências sociais e humanas, a economia, a filosofia e as vertentes epistemológicas do direito...minha preocupação era, e é, apenas de saber e compreender...mesmo que isso tenha implicado em sacrificar a minha própria vida, pois deixei de me construir e minhas prioridades, até aqu,i nunca foram comprar uma calça ou uma camisa e, sim, um livro. Minha vida foi leitura e conhecimento. Sempre foi isso.

Não sou um especialista em nada, mas sou um jornalista bem informado; já disse, torno público e repito: existem algumas áreas do saber e do conhecimento que eu não tenho a menor dúvida em sentar-me com Doutores naquela área e com eles travar uma discussão de igual para igual. Sei que isso, em termos práticos, não tem nenhum valor, mas foi a minha escolha, foi para onde eu direcionei minha vida. E por ter-me direcionado para a busca do saber e do conhecimento, sem querer nada em troca, sem objetivo outro, que me vi chegar aos 50 anos absolutamente pobre, ridiculamente pobre. Porém, absolutamente consciente de minha identidade, de minha busca, inclusive com todas minhas dúvidas, incertezas e angústias.

Por ter estudado lógica, construção de raciocínios, argumentação, dialética, é que aprendi a escrever para me expressar e me defender. Tenhos dúvidas cruéis para tentar entender algumas questões que se apresentam em minha vida. Mas vou procurando um rumo, analisando, medindo, balançando. E me expresso, uso a escrita. Expresso meus sentimentos, minhas revoltas, questiono as autoridades, elogio as autoridades, questiono os professores, elogios os professores, estou sempre na frente com o debate sobre as notas do IDEB, ENEM, OAB ...

Tem gente em Santiago que me odeia e não sabe viver sem ler meu blog 3 vezes por dia. Elles precisam da luz que eu lhes dou, eu sou como um alimento diário. Até para discordarem elles precisam saber o que eu penso. Essa é uma grande Verdade. Elles quebram cabeças e querem entender como o filho de um guarda-noturno conseguiu ir para Porto Alegre, para São Paulo, como conseguiu estudar sociologia, como se tornou tão perigoso a ponto de ter sido expulso da universidade, eles não entendem como é que pode, o filho de um guarda, dissecar discursos, apontar contradições nas produções teóricas, desmanchar argumentações...por isso eles me odeiam...mas é um ódio que não resiste ao meu sorriso, pois - lá dentro - no fundões dos corações e mentes - o amor e a admiração andam bem pertinho.

Por tudo, eu sei idenficar o laboratório do ovo da serpente num desses nossos poderes constituídos, mirei na mosca sobre a conspiração contra o próprio PP, dentro do PP, envolvendo a eleição da URI. Elles conspiravam nos bastidores, diziam uma coisa e negociavam com o outro grupo...e como eu sou maldoso, perigoso (e sem caráter) eu pego tudo, pego até pensamento no ar. Aí elles se enfurecem comigo, ninguém pode me controlar, que maldição, todos leem o que eu escrevo, eles não conseguem entender sobre construção e desconstrução de argumentos, perdem a razão, perdem a elegância, vão a loucura comigo. Eu identifiquei bondade no coração do Chico e da Michele, e me posicionei, sendo que elles se esquecem que só os maldosos e perigosos conseguem ver a bondade e a maldade, entenderam?

E eu, morando aqui na entrada da Bonato, lutando contra as moscas, desfilando num velho chevete quase caindo os pedaços, consigo o que todos elles juntos, unidos pelas linhas retas e tortas, não conseguem: anular a influência da minha escrita. De todos os lados, já tentaram de tudo.

 Eu sou o mal necessário, até para o florescimento do bem. Não existe uma explicação lógica e racional para esse caso que eu criei com a sociedade santiaguense, mas foi criada uma magia, um elo altamente contraditório, complexo. Coitados, eu não sei o que será delles o dia em que eu não existir mais. Perderão sua lanterna. Um mau caráter, mentiroso e cínico como o Bianchini, eu acabo descobrindo, mais dias ou menos dias. Um homem que tem a coragem de me usar,  me mentir que integraria sua equipe quando era para lhe defender dos ataques do Expresso, me pedir um documento para formalizar perante o grupo e depois tentar me expor...o que dizer de uma pessoa que age assim? Que não responde a nenhuma das questões que levantei. Por que é ele não responde as questões políticas que coloquei em debate com a sociedade e prende-se numa crítica pessoal contra minha pessoa. Pois, por mais que eu tivesse lhe pedido emprego, mesmo assim não teria nada de errado nisso e mesmo isso não me isenta de vê-lo como um cretino.

É tão simples entender porque é que eu sou maldoso, perigoso e sem caráter. Anotem essa postagem de hoje e guardem bem essa sentença louca e megalomaníaca: eu não existo, o blog é uma abstração metafísica, é a razão e a loucura, o blog pensa, o blog estimula o debate, o blog sentencia...esse é o Poder máximo de um homem desarmado, perigoso e maldoso.

Como eu me divirto com essa gente. Elles não sabem o quanto eu os amo. Eu lhes dou luz e sugo suas energias. Eu não existo, elles é que me fazem existir.