Quem vai de Santiago em direção a Ernesto Alves ou quem vem de Jaguari em direção a Santiago, defronta-se - na rodovia - com aquelas plaquinhas: CASA DO MARISTÃO. Os desinformados não sabem do que se trata, pensam ser uma casa de benzimentos. Na realidade, Maristão é uma bebida, aliás, uma bebida muito singular e única, coisa nossa, genuinamente santiaguense e que têm conquistado uma legião de adeptos por esse Estado afora.
O detentor de fórmula inicial, senhor Miro, faleceu. Em seu lugar, ficou o neto, o Zootecnista Eduardo Lamana, que depois de formado voltou a residir no local e segue os passos do avô.
Trata-se de uma bebida que mistura vinho com cachaça, canela e outras especiarias. A gente bebe, acha tudo docinho, e logo o efeito aparece...dá um tonturinha que lembra o Santo Deime, a partir daí cada um cria suas próprias histórias, viagens e alucinações. Calma! O Maristão não é alucinógeno, é apenas embriagante e o maior barato.
Contou-me Eduardo Lamana que vende em torno de 15 mil litros/ano e é tudo produção artesanal.
Eu conheci a CASA DO MARISTÃO quase por caso. Um amigo, o Luciano, ligou-me sexta-feira, estava com sua carteira vencida e queria ir buscar uma ovelha no local. Fomos até lá. Como chovia muito, o jovem Eduardo convidou-nos para um aperitivo e foi aí que conheci a história do seu Miro e da Casa do Maristão.
Sem revelar nada ao jovem sobre minha identidade de jornalista, fui entrevistando-o sem ele perceber.
Eduardo Lamana é um jovem muito inteligente, entende bem do metier, conheçe agricultura e pecuária, anda com os pés no chão, é talentoso e vai crescer muito associando prática e técnica, mais a razão. Eduardo vive nos 31 hectares da família e ali desenvolve múltiplas atividades e mostra - a prática - o alto rendimento e os níveis de produtividade acima da média da pequena propriedade familiar.
Afora o ascendente comércio do Maristão, que vende em torno de 15 mil litros/ano, eles produzem uma gama de outras variedades, por exemplo, enormes barragens onde são criados peixes, desde dourado até piava. Assim, têm carne de peixe todo o ano e vendem o excesso, principalmente na semana santa, disse-me ele. Também, criam-se vacas leiteiras e o leite é vendido para a padaria Glacial de Santiago, sendo que é utilizado para fazer toda a linha de doces e quitutes da padaria e confeitaria.
Mas eles também criam ovelhas, seja para o consumo, seja para a venda. Aliás, Eduardo sonha com uma grande Casa, em Ernesto Alves, onde possam vender carnes por encomenda.
Um breve passeio pelo local e logo se vê os enormes fornos onde se fazem os pães, os tachos gigantes para doces e geléias, enfim, o lugar é maravilhoso, aconchegante e serve muito bem de laboratório para quem quer entender como a pequena propriedade familiar é viável, mantém índices elevados de produtividade e assegura uma boa renda para quem vive da terra.
Ganhei um litrão do Maristão. A rigor, não bebo, mas não deixei de experimentar a bebida. Vou dividi-la com o seu Derli, pai da Eliziane, que gosta muito de bebidas, gosta de cachaça, gosta de vinho, agora ele vai experimentar uma mistura de cachaça com vinho e uma fórmula mágica que seu Miro levou para o túmulo, mas antes teve a precaução de deixar anotadinho numa folha de caderno para o neto Eduardo.
Valeu a viagem e o convite do Luciano. Servi um amigo e tive o privilégio de conhecer o Eduardo Lamana, pessoa cortês e educada. Como fiquei tempo longe do blog e de minhas leituras, transformei a viagem em matéria-prima do meu trabalho.