quinta-feira, 31 de março de 2011

Minha última postagem sobre Jorge Bittencourt

Dias atrás, eu estava na sessão da câmara e falei com o Jorge pela última vez. Ele sentou-se na fio da calçada em frente ao prédio do poder legislativo e disse que queria falar comigo. Sentei-me ao seu lado e ouvi-o.

Ele estava muito muito triste.

Fiquei profundamente comovido. Senti uma pena muito grande do Jorge. Suas palavras cortaram-me profundamente. Naquele instante, eu que sou tão falante e sempre tenho respostas para quase tudo, fiquei mudo, estarrecido, perplexo, pois senti uma alma profundamente machucada. Talvez eu o entendesse em toda a dimensão do seu drama.

Naquela mesma sessão procurei o Vereador Cláudio, que é Pastor, e pedi para ele tentar ajudá-lo. Pedi para o Cassal e pedi para o Diniz Cogo para ajudá-lo.

Senti-me impotente.

Sabia da gravidade do seu quadro de saúde, mas não achava para fosse morrer, era um homem moço, tinha muita vida pela frente.

Em diversas ocasiões, tivemos fortes divergências; no entanto, nunca abri mão de reconhecer seu talento. Dias atrás, fui conversar com a Naíse Quartieri sobre o cargo cago de assessor de imprensa da URI. E consultei-a sobre o nome do Jorge, pois pensei em indicá-lo, como sugestão, a direção da universidade. Só que ele nunca mais melhorou.

Depois de algumas desavenças, ficamos bons amigos e essa amizade consolidou-se com essa postagem acima, onde ele externa de forma franca, leal, sincera e honesta uma opinião sobre a minha pessoa. No mesmo dia da postagem, ligou-me para saudar o nascimento da Nina. Conversamos longamente e convidei-o para vir até nossa casa. Nunca veio.

Jorge era pessoa extremamente inteligente, escrevia com uma maestria singular, tinha muita perspicácia e não era desse mundo. Seu mundo era outro, era um mundo de liberdade, de viagens, de sensibilidade, de afeto e de carinho extremado, como o que demonstrava por sua mãe e cuja dor da perda não conseguiu superar.

Jorge partiu hoje em busca de novos horizontes, de novos caminhos, de um novo mundo; talvez encontre um mundo como ele sempre acreditou, sem ganância, sem usura, com igualdade e com fraternidade. Um ser humano bom, livre e decente como ele, só pode merecer os céus. Nós estamos tristes, consternados, talvez ele esteja feliz, sorrindo, ao lado de sua mãe, ao lado das pessoas que amou e que se foram.

Cumpriu - assim - o destino inexorável de cada um de nós: partiu para outro mundo.

A nós, resta registrarmos sua passagem e fazermos os ritos com um corpo sem vida. Jorge, o Kiko, já é habitante de outra dimensão.