segunda-feira, 4 de abril de 2011

Algumas considerações sobre o desenvolvimento de Santiago e Região, por Rogério Anése*

1º) Tenho sustentado que Santiago e região não são capazes de aproveitar as ondas de crescimento e geração de emprego da economia brasileira. Nos últimos anos o Brasil cresceu sustentado pelo mercado interno e na expansão do consumo da classe média (que já é a maioria no país), que requer uma economia local integrada aos grandes centros consumidores, o que não é o nosso caso. Para se ter uma ideia, entre 2000 a 2009 o emprego formal (com carteira assinada) cresceu 57,11% no Brasil, 37,41% no Rio Grande do Sul e 29,12% no Vale do Jaguari. Em Santiago o crescimento foi de 28,37%. Outro dado interessante é a participação do emprego formal na população, como mostra a tabela abaixo:

Ano....................2000 ...............2009
Santiago........... 9,96% ...........13,58%
Vale Jaguari...... 9,13%........... 12,19%
RGS................. 18,59%.......... 24,33%
Brasil ................15,45%........... 21,60%
Fonte: Ministério do Trabalho

2º) Se considerarmos as participações no Valor Adicionado ( compõe o PIB), o setor de comércio e serviços é o maior em Santiago, responsável por 60% da riqueza gerada, em 2008. Esta é uma característica das economias mais urbanizadas. A Agricultura representava 12% e a Indústria 8%. Mas o que preocupa é que de 2001 para 2008, pelo Valor Adicionado a agricultura em Santiago cresceu 8,9% enquanto que a do Rio Grande do Sul cresceu 13,7%. Mostro estes dados para argumentar que a agricultura não é capaz de gerar a riqueza necessária para melhorar o padrão de vida da população de Santiago. Alguém pode dizer que os empregos no comércio são sustentados pela agricultura. Isso é verdade em parte, uma vez que, entre 2000 a 2009, o Emprego Total, cresceu 28,37%, na Indústria 9,2%, no Comércio e Serviços 45,5%, Administração Pública 12,6% e na Agricultura ocorreu um decréscimo de 16,9%. Isso mostra que os empregos na cidade aumentaram muito mais pela injeção de recursos públicos e expansão do crédito do que pela dinâmica dos outros setores.

3º) Parece que a estratégia de desenvolvimento adotada nos últimos anos não tem se mostrado eficaz, pois Santiago não foi capaz de potencializar os estímulos externos que a política econômica nacional proporcionou (aumento da renda, aumento do crédito e crescimento para o mercado interno). O que deve ser debatido é um modelo que integre a produção local aos centros mais dinâmicos, ou a centros urbanos mais significativos. Tenho defendido em alguns debates que devemos dialogar com Santa Maria, para pensar uma estratégia conjunta, pois aquele município possui população suficiente para servir de “campo aglomerativo” para os municípios ao redor. Mas, para isso, Santa Maria deveria também mudar seu perfil de cidade “vendedora” para cidade “compradora” dos produtos da região. Isso é uma estratégia de médio e longo prazo, mas que não está colocada na discussão.

Tenho pensado muito na estratégia de fomento as micro e pequenas empresas, pois sempre defendi esta ideia. Entretanto, as alternativas de desenvolvimento “endógeno” são difíceis de serem concretizadas em regiões “remotas” como a nossa. Por isso seria interessante adotar uma estratégia mista, com apoio e suporte para a “criação” de médias (grandes é difícil) empresas industriais para que sirvam de compradoras e difusoras das inovações para as empresas menores.

São algumas considerações sobre um debate que não é novo. Tem-se debatido e construído planos de desenvolvimento para Santiago e Região a pelo menos 2 décadas. E, pelos dados, observa-se que ocorreram poucas mudanças, principalmente na composição do emprego e diversificação da base produtiva. O caminho é longo e só será possível com a modernização de algumas instituições locais que se tornaram “anacrônicas” e não dão mais conta da complexidade em que Santiago se tornou. Está na hora de se incorporar novos atores no debate, atores estes oriundos da nova classe média escolarizada (graças a URI) e novos empreendedores urbanos e rurais. Cabe ao poder público e as lideranças tradicionais entender estes sinais e propiciar os espaços para a construção de uma nova Santiago e Região.

* Doutor em Economia e Professor IFET SVS