terça-feira, 12 de abril de 2011

Da violência sexual e a moral social como castração dos instintos

A Eliziane puxou um longo assunto comigo antes de escrever seu artigo; horrorizada com a banalidade da violência sexual, ela divide-se entre a vida e propostas de direita, as quais nunca abandonou totalmente. Ela defende a castração química e outras práticas afins. Ouvindo-a, noto que ela é centrada, tem um pé na biologia e outro na ciência política, sempre.


Lizi me faz pensar longamente. Temos visões diferentes para problemas iguais. Ela acusa-me de determinismo genético, alusão a visão que tenho de que o ser humano é produto cromossômico e ponto final. O meio? Quem meio, o meio apenas é a maquilagem. O ser humano vem pronto.

Hã, se vai desenvolver suas potencialidades - ou não - é outro debate. Agora, tenho uma opinião muito forte sobre os gens da violência em nossa carga genética e isso é uma guerra que cada um de nós trava internamente. Como controlar nossos impulsos, nossos ódios, nossas violências? Esse é um bom debate.

A violência sexual é apenas um capítulo encadernado em nossas vidas. Podemos até domesticá-la a ponto de reprimi-la, mas nunca extirpa-la de nossos corações e mentes. Noto a relação absurda de nossa sociedade pós-moderna com os impulsos e desejos. De um lado, existe um apelo sexual e erotizado em tudo; nas propagandas de bebidas, de roupas, de calçados, de automóveis e até de medicamentos. Já contei essa história várias vezes. Certo dia, observava uma publicidade de sapato, onde o foco era a ingenuidade de uma menina-moça, de pernas abertas, calçinhas à vista, e – secundariamente – apresentava o sapato, embora o alvo fosse o calçado. Ademais, a foto num tom ingênuo, em cores leves, insinuando pureza, induzia todos a pensarem que se tratava de uma virgem descobrindo o mundo num par de sapatos.

O sexo violento está em todos os lugares, nos filmes, na TV, nos apelos fáceis e na comercialização, aliás, banalizado. O desejo de estupro faz parte do inconsciente coletivo coletivo da sociedade pós-moderna, embora nossos pudores fde um moralismo judaico-cristão não os admitam. Eles estão a flor da pele e basta uma vertente institucional e ele toma forma. Assim o foram com os alemães, com os russos invasores da Alemanha, com os recentes processos de depuração racial na Sérvia; dos recentes processos de depuração de tribos africanas, passando pela Sérvia, em nada diferem-se dos estupros coletivos que os russos praticaram contra as indefesas mulheres alemãs na segunda guerra mundial.

O apelo do carnaval à carne, reviverá em nossas mentes a violência sexual. Estupros vão acontecer; uns virão à tona, outros, ficarão adormecidos nas páginas da vergonha familiar.

Contraditória essa etapa da vida em sociedade. Crise ética não casa com repressão aos instintos. Pelo contrário, a crise ética da sociedade, onde a cada dia os paradigmas de vergonha e moral são enterrados, apenas joga mais lenha na pressão dos mecanismos de violência. Curiosamente, eu concordo com a Eliziane numa coisa. Só regras duras e penas severas inibiriam tais crimes. Mas, no atual estágio de complacência política, onde o roubo é visto como sinônimo de malandragem e onde pessoas honestas são alvo de achincalhes – quando não taxadas de incompetentes na escalada da ascensão social - não há que vaticinar sobre endurecimento.

Ademais, a religião é o fator determinante no recrudescimento moral; o arcabouço teórico cristão poderia muito bem ser o indutor de uma nova moral fundamentalista. Mas quem quer isso?

E assim vamos indo. Todos os dias a liberdade de imprensa mostrará novos e novos atentados, novas e novas violências. E nós refletindo em meio a tudo isso. Apenas fazendo uma leitura social e socializando na interação da blogosfera.

Outro dia, ouvindo a simplicidade da expressão verbal do seu Sagrillo, refletia profundamente sobre a extensão do seu pragmatismo: a pessoa que vai muito fundo nas coisas sofre muito. Ela vê coisas que as pessoas simples não vêem.

Vejam tudo o que está envolvido num pequeno post sobre violência sexual e suas implicações. Eu agradeço a todos que interagem comigo e são partícipes dessa reflexão coletiva.