Curtindo intensamente o encontro do meu eu comigo mesmo, retiro das prateleiras Enesto Sabato. Releio atentamente ao livro ANTES DO FIM, um fantástico relato autobiográfico.
Relio-o todo de uma só vez, diferente da primeira que o li ... por etapas. Uma narrativa impressionante e uma leitura imprescindível.
Revivamos, pois:
Emocionalmente visitei em várias ocasiões o túmulo de Van Gogh, aquele desventurado que nunca conseguiu vender um quadro, e cujas obras hoje são disputadas aos milhões de dólares, para serem exibidas em supermercado. Pobre Vincent; habitado por Deus e pelo Demônio, humilde e bondoso, que ía pregar o evangelho aos mineiros e que ao mesmo tempo dirigia violentos ataques ao Gauguin ; que recolhia as pobres prostitutas de rua, como aquela com uma criancinha, para servir-lhe de modelo, e terminava levando-a para viver com ele, provavelmente porque a compreendia, já que os dois sofriam do mesmo desamparo. Como diz Artaud, outro possesso que sempre admirei, VAN GOGH morreu suicidado por uma sociedade que não podia continuar suportando suas terríveis revelações. Como duvidar que Artaud estava também falando de si mesmo; em uma carta a seu médico, depois de terríveis eletrochoques, declarou-se sentir-se "tratado como um alienado e maltratado em razão de um gesto, de uma atitude, de uma maneira de falar e de pensar que foram na vida as de um homem de teatro, do poeta e do escritor que era". Acabou morrendo como um cão; o jardineiro encontrou-o uma manhã, sentado em sua cama, com um sapato na mão. Nunca saberemos aonde ele se dirigia nesse dia de sua última solidão.
==
Por isso, a raça de artistas que sempre admirei é aquela a que pertencem esses homens.
==
Homens que aliaram a sua atitude combativa uma séria preocupação espiritual; e que, na busca desesperada de sentido, criaram obras cuja nudez e crueza é o que sempre imaginei com a única expressão de verdade.
==
Ganhei esse livro do meu querido amigo Ruy Gessinger, dia 04 de janeiro de 2009, na sua casa de praia, em Xangrilá. Hoje, 05 de maio de 2011, tendo Sabato partido para o Fim, declaro-me vivamente impressionado. Que leitura, profunda, existencialista, inquieta e perturbadora. ANTES DO FIM, de Ernesto Sabato. Agora, o fim chegou, e ela se torna mais perturbadora ainda.