quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As forças postas na sociedade santiaguense

Um debate para quem é apaixonado pelo “localismo”, aliás, uma tendência forte que surge na sociologia política em oposição ao “globalismo”, é entender a dinâmica das forças políticas, sociais, econômicas, entre outras, que controlam uma determinada sociedade.


Mesmo equenas sociedades organizadas, no caso municípios, cito Maçambará, Cipó, Unistalda e Itacurubi, apenas para ilustrar, existe um forte debate pelo controle político de suas rédeas. Entretanto, o controle político, às vezes, não quer dizer o controle de todas as forças autônomas e independentes que atuam dentro de uma determinada sociedade. Cada sociedade tem seus vieses.

Como sou apaixonado pelo “localismo” e ainda dispondo de alguns instrumentais de análises, muitas vezes me fixo numa reflexão aprofundada acerca da sociedade santiaguense, seus vieses, suas forças internas, suas contradições, sua imprensa, sua política, sua economia e – sobretudo – concentro-me nos atores sociais que atuam decisivamente dentro de determinados aparelhos da sociedade.

É claro, carrego um forte ranço gramsciano de minha formação acadêmica em sociologia, mas é esse instrumental que me permite situar os aparelhos, identificar sua força, sua intervenção e a disputa da hegemonia na sociedade santiaguense.

Não sou Diógenes, mas tenho uma lanterna em cima de minha mesa. A partir daí, procuro situar os aparelhos, Hospital, Tritícola, Sindicatos, imprensa, entidades empresariais, MP, poder judiciário, poder legislativo, prefeitura, liga de futebol, associações de moradores, associações recreativas, entidades de classes, artistas, escritores, poetas, forças independentes, universidades, escolas, religiões, rádios, blogs....

Desde que retornei a minha cidade, após 16 anos morando em Porto Alegre e São Paulo, procurei situar um debate mais politizado no seio da sociedade santiaguense e ajudei a introduzir alguns instrumentais de análises. Esmiucei, precisei muita coisa em detalhes, estudei, li e escrevi sobre situação e oposição, forças em contradição, capacidade de intervenção, empirismo de ações, e confesso-me, hoje, em condições de fazer uma boa leitura dessas forças, sei precisar cada uma delas, conheço o “objeto Santiago”, sei entender suas movimentações internas, os passos de suas forças que se entrelaçam da política à economia.

Essa eleição de 3 de outubro vai nos dar mais um resultado da intervenção de nossas forças. Por exemplo, o SINDICATO RURAL PATRONAL, que banca uma extensa elite da sociedade santiaguense, e representa, inegavelmente, uma grande força econômica, vai colher os frutos de sua intervenção. Majoritariamente comprometidos com a candidatura de Ernani Pólo, candidato a deputado estadual do PP, serão medidos mais uma vez em sua força e sua extensão de inserção na sociedade santiaguense. Essas, refletem também sua sociabilidade, capacidade de influenciar a sociedade, afinal carreando votos para um candidato com o qual se identificam estarão também demonstrando sua força e outras ilações subjacentes a sua inserção no tecido social.

Na votação dos 1005 votos obtidos para Jerônimo Goergem, em 2006, por exemplo, ficou estampado uma grande contradição, afinal era raro o camionetão cabinado de Santiago que não ostentasse um adesivo do candidato, sobrava dinheiro e poder, desde o patrocínio legal de jantas e eventos, comitê em zona central e tudo mais que caracteriza poder e pujança. Quer dizer, trata-se de um poder sem nenhuma inserção social, trata-se de um poder que não consegue arrebanhar, mobilizar, arregimentar forças fora do nicho de influências.

Agora, mais uma vez sua força e sua capacidade de intervenção serão testados e sua força será expressa na votação de Pólo.

Desse grupo surge oposição à outra força organizada dentro do HCS e da Tritícola. Esse grupo político, mais identificado com a oposição política local, mas sem ser oposição, vive até uma certa ambigüidade, mas soube lastrear-se num segmento sabidamente mais popular e com mais apelo mobilizatório. Daí virá a votação de Osmar Terra e dessa leitura será a análise da força desse segmento que também tem pesados reflexos na economia local e interage com o meio empresarial.

Outro grupo curioso é o grupo derivado da oposição universitária liderada pela Professora Ayda Bochi. Tanto ela, quanto a Professora Sandra, mais o peso da família BOCHI BRUM, colocaram seu prestígio em cima da força política que resultará na votação de MÔNICA LEAL. Se essa for exitosa e fizer mesmo uma votação entre 3 e 5 mil como prometem, estarão consagrados como força organizada e legitimadas por uma linha de intervenção. Se, contudo, a votação de Mônica ficar nos patamares de Jerônimo Goergem, aí a situação ficará complicada demais para quem se apresentou como um grupo político unitário e monolítico. Curiosamente, o grupo de situação universitária, ligado a Chico e a Clovis Brum, poderá sair fortalecido se Chicão for exitoso.

O outro grupo político local, representando pelo PP, que detém o controle político da cidade, aposta todas suas fichas nas candidaturas Chicão e Heinze. Da mesma forma, o êxito ou fracasso desse grupo político organizado, que se entrelaça com algumas forças sociais, ficará expresso na votação de ambos. Podem se consagrar ainda mais para 2012 ou entrarem derrotados, as urnas é que falarão e darão os limites dessas forças. Assim, o mesmo raciocínio vale para o grupo de Diniz Cogo, Algeu, Luciano Vieira ... do PMDB que também mede sua capacidade de intervenção com a candidatura Padilha. O mesmo vale para o PDT com Afonso Motta, com seus candidatos locais a deputados estaduais, para o PT, em especial para os pequenos grupos organizados, para o grupo de Afonso Hann, José Otávio Germano, separados dentro do PP, dentre outros.

Existem, ademais, forças periféricas como segmentos evangélicos cada qual com seu candidato, da Universal à Assembléia de Deus. E sempre surgem essas votações periféricas de candidatos que ninguém nunca viu, ninguém sabem quem são, mas que emergem com boas votações dentro de Santiago. Vira e mexe, vamos conferir, e é algum pastor bancado por alguma igreja.

Da leitura de sucessivos pleitos passados já é claro a dedução que as eleições estaduais e federais não se vinculam com as municipais, no caso de Santiago. A vinculação se dará nas proporcionais, aí sim existem reflexos vinculativos.

Assim, postas as peças no tabuleiro, Santiago engrena um baita tira-teima. Curiosamente, as cartas agora colocadas acabarão influenciando na sucessão municipal de 2012. Se, por exemplo, Diniz Cogo estourar com Padilha, ele é forte nome dentro do PMDB e ninguém impedirá sua candidatura. Chicão se vincula com o PP, pois sua eleição ou não-eleição terá a ver com a sucessão, gostem ou não. Vencendo, seu grupo continuará dando as cartas, inexitoso, enfrentará o trator dos Peixotos, que descerá roçando tudo pela frente.

A grande verdade é que para nós, santiaguenses, a eleição presidencial é o começo do digladiar-se interno, afinal terminam as eleições e ficará explícito a força de cada um desses grupos e aí começam-se as costuras com vistas a 2012.