A Nina é o maior barato; em plena fase oral, tudo o que pega leva à boca. Entretanto, há dias eu e a Lizi observamos sua atração por chupar o dedo do pé. É uma graça o contorcionismo dela, afinal poderia simplesmente chupar os dedos da mão, não é mesmo?
Mas, enfim, essa é minha filhinha. Não tinha conhecido uma criança tão mimosa, tão agradável e tão de bem com a vida. Embora eu saiba que não seja o ideal, mas fico impressionado com seu apetite; não rejeita nada. Azeitona e pepinos (é claro, só um pedacinho pela gula), mas ela faz uma cara feia e vai metendo. É tarada por sorvetes e picolés. Com ela não tem ruim, come o que vier pela frente.
Agora, todos os finais de tarde, quando o sol se vai, levamos ela para a piscina, é uma patinha, apaixonada por água, entra e não quer mais sair.
É um doce de criança. Ainda não houve um dia que ela não acorde sorrindo para mim, parece que ela sabe a arte de seduzir. Ontem à noite, fomos até o calçadão comer um sorvete desses de casquinha, que custa um real. Ela ficou tão feliz que só andava batendo palmas calçadão afora.
Minha vida nunca foi tão boa. Luto para manter esse prazer de viver dias tão bons como os que tenho vivido desde que ela nasceu. Parece magia, encanto ou seja la o que for, mas eu sinto que sou outra pessoa, tornei-me mais humano, mais dócil e mais cruel com os bandidos que se apropriaram dos interesses da comunidade e usufrem-nos em conluios de privilégios familiares, com desrepeito às leis e à constituição.