terça-feira, 15 de março de 2011

Diógenes, o filósofo grego, sua lanterna e nossos corpos adestrados e devorados

Em certas ocasiões sinto-me como Diógenes, o filósofo grego. Já escrevi sobre isso em passado recente. Pego a lanterna, pouco depois da janta, pego a Nina e saio pelas ruas de Santiago. Ando pelos calçadões, paro nos postos, vejo pessoas sentadas nos bares, outras olhando vitrinas e caminhando como se tivessem um trajeto bem definido e suas vidas fossem como o trajeto.


Em crise, sinto uma incerteza quanto ao futuro, pois minha lanterna não me indica nada. Estou só e quero conversar com alguém. Não defino sexo, idade, escolaridade, nada, nada. Apenas procuro um diálogo no nível da interação possível. Mas nada.

Os proprietários terras querem ampliar mais e mais seu poder destrutivo sobre a natureza e tudo me faz lembrar Pierre Proudhon, que já dizia: la proprieté c´est le vol . Pior que a propriedade ser um roubo, é a passividade com que assistimos ao esboço de propostas que visam assassinar o meio ambiente usando as propriedades e o direito de destruir. Num futuro muito próximo todos nós pagaremos os tributos dessa omissão. Aldo Rebelo é um safado bancado pelo agronegócio, tudo está podre.

Minha lanterna não mais clareia, apenas tateio o universo incerto, perplexo com a falta de critérios dos políticos, que não têm posições, apenas de deixam levar pelas circunstâncias eleitorais. Os homens que ficarão eternizados em suas sociedades não são os que andam que nem biruta de aeroporto, ao sabor dos ventos. Ora aqui, ora ali...

A história de cada um de nós dentro de nossa polis só depende de nossa ação ou de nossa omissão. A história não é um ente abstrato, ela é determinada, forjada, escrita em cada gesto, em cada tomada de posição, em cada ação que fizemos ou deixamos de fazer. Assim, o futuro está em nossas mãos, para ser escrito, pelos que intervém na história e a fazem-na acontecer ou pela omissão dos que apenas deixam os fatos acontecerem, escritos pelas mãos de terceiro. O futuro é como a decisão da Antígona, na obra de Sófocles, ou a gente age, mesmo que desobedecendo, ou a gente deixa nossos corpos expostos ao relento para serem devorados pelos abutres, assistindo a própria desegragação inteiror, eis que aos poucos vão extirpando nossos pedaços, nossos membros, nossas vísceras...até que não reste mais nada de nós e nossas almas deixem o vazio de nossos corpos, adestrados e devorardos.