domingo, 13 de março de 2011

A Magia de um sorvete de abacaxi

Eram 11 e pouco da noite passada e eu estava sentado num banco da praça, na segunda quadra do calçadão, saboreando um delicioso sorvete de abacaxi. As pessoas que por ali passavam sequer imaginavam a felicidade daquele momento mágico. Sorvete faz bem para minha alma. Sorvete é como o néctar dos deuses. A vida, que vida? A crise, que crise? Impossível pensar na vida e na crise quando se está saboreando um sorvete.


Gosto de vários sabores de sorvete: leite condensado, caramelo, creme, morango, abacaxi e/ou outro qualquer sabor. Sendo sorvete, sempre cai bem.

A vida, para mim, é feita de pequenos prazeres. Esses, determinam minha conduta, minha trajetória e meu ser. Não gosto de grandes planos. Os planos mais simples, são sempre mais exeqüíveis. Programar um churrrasco, escrever um texto, conversar com as pessoas que eu gosto, ler um jornal ou um livro, dormir com a TV ligada, escutar Bach, tudo me dá muito prazer. Encontro nessas coisas boas da vida uma razão muito forte para continuar levando meus dias. Mas só faço o que gosto. O que não gosto, não faço. Tem gente que eu acho completamente sem caráter e desses quero distância. Acho que sei distinguir a humildade e a bondade com a pretensão e a arrogância. Trata-se de um conjunto de juízos e valores subjetivos, mas um dia, com o apoio da teoria de um Bachelard, acho que pude entrar para dentro dessas sujetividades.

Gosto de sentar no meu computador com o ventilador nos meus pés. Adoro sentir aquela sensação de frio e imaginar um cálido inverno, fantasiar nesses dias nauseantes e calorosos que vivo na neve. Adoro imaginar que chove lá fora e quando fujo para debaixo do acolchoado mergulho nem estranho sonho como se protegesse-me de um chuva torrencial, tão ficta quanto a abstração dos meus pensamentos que voam longe.

No lapso de tempo que separa a chegada do sono e o intervalar semi-acordado, tenho dado asas à imaginação e viajado por tantos lugares estranhos e desconhecidos. Observo aí as árvores frondosas, machucadas pelo tempo e resistentes ao mesmo tempo. Estranho o colapso de uma civilização. Vejo o desplanejamento urbano e a ocupação irregular das áreas, casas e necessidades, conjugação de um estranho verbo miserável.

Quero navegar por mundos estranhos em mais uma noite de sonos e sonhos. A sensação de que o sono pode me dar um prazer de um sonho diferente, logo é contabilizada como parte dos pequenos prazeres com o quais convivo o dia-a-dia. Dormir, sonhar e saborear um sorvete é sempre um pequeno prazer, mas para minha vida e o estágio atual pelo qual passo, é sempre um grande prazer. Chavão? Que seja, os pequenos prazeres fazem-me eternamente grande de satisfações. Prolongo o gozo da delícia do sorvete, tento decifrar as entranhas do prazer e mergulho sem medo numa busca frenética e irracional até atingir o clímax da casquinha com os últimos resquícios ... de sorvete.