domingo, 13 de março de 2011

"ODI PROFANUM VULGUS ET ARCEO". A OPOSIÇÃO SANTIAGUENSE

A frase é do poeta latino Horácio, consta das ODES, e quer dizer, em bom português: “Odeio a multidão vulgar e mantenho-a a distância”. Com a citação latina inicio uma breve reflexão sobre a oposição santiaguense, conhecida por “iluminados”, que se reúnem a cada 3 anos e 6 meses  e cujas decisões, são – no mínimo – alvo de controvérsias, pois sempre imaginam decidir o pleito municipal em cima de um nome mágico tirado da cartola.

Muito tenho me debatido sobre nossa oposição, sua prática, seus erros reiterados e, sobretudo, por nada terem aprendido com o passado. Sobre o PP, principal alvo da oposição, publiquei um livro onde disseco sua forma de inserção na sociedade santiaguense. Ao meu ver, uma inserção perfeita e um controle absoluto de hegemonia da sociedade santiaguense. Controlar uma sociedade implica em saber ler como acontecem os processos de dominação, seja das associações de moradores, dos clubes de serviços, recreativos e afins, dos CTGs, ONGs, associações profissionais, grêmios estudantis, entre outros. Mostrei, com base na teoria de Antônio Gramsci e no conceito de hegemonia formulado por este, bem como nos aparelhos ideológicos dissecados por Louis Althusser, resguardando as particularidades e especificidades, como o PP santiaguense, a despeito de sua origem de direita, assentada no patrimonialismo, com raízes profundas no capital fundiário, consegue adotar uma prática que é de esquerda tão ao pé da letra.

Uma eleição não se decide somente no pleito e tudo que antecede o pleito é construção, articulação e busca de resultado eleitoral. Assim, um processo eleitoral, começa no dia da posse do eleito, 1° de janeiro e segue ao longo dos anos.

O governo Chicão foi singular no trabalho. Se já tinha a hegemonia da sociedade santiaguense, soube manter e acrescer, sendo que não são visíveis eventuais rupturas em sua base de apoio. Ruivo elegeu-se facilmente e a votação maciça de Chicão como candidato a deputado estadual, em outubro de 2010, corrobora essa forte hegemonia.

Já a oposição, não aprendeu nada com os erros de Burmann e Dionísio e de Vulmar e Cadó. A rigor, suas reuniões se resumem num conjunto de boas intenções, alimentadas por factóides, eis que ao longo dos anos não procuraram estabelecer um processo de disputa de hegemonia na sociedade santiaguense e a cada decisão fechada largam um boato diferente.

A oposição ainda é analfabeta funcional em política. Se não fosse, não teria deixado o governo do PP dominar livremente a sociedade santiaguense. O PP dominou sem oposição e soube fazer das diretorias de associações e entidades afins a legítima correia de transmissão entre os movimentos sociais e a administração. Isso explica os processos de oitivas populares, os usucapiões coletivos patrocinados pela procuradoria do município, os processos descentralizados de edificação de moradias populares via projeto Minha Casa, o amplo apoio da sociedade ao projeto Criança Feliz e a aposta massiva de PSFs e ESFs, CEOs, fatos que toca no aspecto mais sensível das populações: a saúde. Com a saúde, educação e habitação em alta, com dinheiro em caixa como nunca, com trabalho acumulado e contínuo ao longo dos anos, com controle hegemônico perto do absoluto, o PP vai para mais um processo eleitoral com uma tranqüilidade nunca vista.

A oposição, que nunca fez oposição, agora brinca de iluminação. Ser oposição, seria fazer oposição desde o primeiro dia da posse de Ruivo. Ser oposição seria disputar as eleições nos clubes de serviços, nas associações de moradores, nos CTGs, nos grêmios estudantis. Ser oposição, seria falar com o povo, nas vilas, difundindo ideologias, questionando, futricando, marcando em cima, em suma, dialogando com as massas populares, com a multidão vulgar de moradores dos bairros pobres. Nada disso foi feito e 2012 está aí.

Agora, como na vez passada, discutem-se nomes, coligações e falam em programa. Estamos a poucos meses do pleito. Daqui alguns meses definir-se-á um nome e aí vão para as ruas. O nome escolhido pelos iluminados vai até os bairros, como fez Burmann e como fez Vulmar. Aí vão descobrir que a hegemonia pepista está construída e virá o desespero, restando a agressividade.

O que a oposição não se toca é que não se faz política em cima de nomes e muito menos em cima de supostas propostas. Eu pego um papel e crio 2, 3, 4 programas, quantos forem necessários. O Vulmar Leite sabe muito bem criar um programa, criar programa é papo furado, colocar propostas numa folha de papel, é coisa para iludir otário. O papel aceita tudo, e um programa com diagnóstico sobre números que envolvam funcionários, CCs, estagiários e contas públicas é coisa simplória, isso leva o nada a lugar nenhum.

A oposição deve começar suas reuniões ao estilo franco-maçônico. É uma pena que tudo isso aconteça em Santiago. A prática está errada. Reuniões não levam a nada. Faltam teorias, faltam canais de comunicação com a população, faltam jornais, textos, teses, folhetins, falta diálogo, enfim. Reuniões de iluminados bastaria 2 ou 3 e tudo estaria definido. Curiosamente, o nome que melhor tem sensibilidade e que tem feito política quase permanente, uma exceção, Diniz Cogo, parece que não agrada ao conjunto da oposição, que mais uma vez querem o cartolão. Não agem como bateria de escola carnavalesca e não querem esquentar os tamborins. Não sei o que fizeram que ainda não esquentaram nada.

A frase de Horácio, afora a brincadeira, sintetiza muito bem a sistemática de um espectro oposicionista, pois nada justifica o povão afastado dos partidos a poucos meses da eleição. Por que mantêm-se afastados do povo? Quando quiserem a aproximação com o cheiro do asco vulgar do povo pobre poderá ser muito tarde, como de fato já o é. Então restará a gritaria, perda de dinheiro, ou como ocorre na comédia de Poenulus, de Plauto, OLEUM ET OPERAM PERDIDI, ou seja, perda de tempo.