sexta-feira, 22 de abril de 2011

AO JORNALISTA JÚLIO PRATES, DO POLICIAL CIVIL RUI TELMO DE FREITAS

AO JORNALISTA JÚLIO PRATES


Caro Júlio Prates.

Embora nunca tenhamos conversado, acompanho seu blog semanalmente assim como outros da mídia escrita de nosso município. Acho que o que tu escreves tem a marca da responsabilidade e do equilíbrio como formador de opinião.

Fiquei feliz pelo que tu escreveste sobre a integridade da classe policial de Santiago nesta semana em que nos tornamos alvo de questionamentos. Realmente levamos nossas vidas de forma transparente. Sou policial há vinte e dois anos, cinco como soldado e sargento da nossa gloriosa Brigada Militar e há dezoito anos sou escrivão de polícia lotado na Delegacia de Polícia de Santiago.

Li o seu comentário justamente no dia do policial e refleti sobre a difícil missão de fazer polícia. Vivemos no fio da navalha, estamos no céu ou no inferno não tem meio termo, pois trabalhamos com as mazelas da sociedade. Precisamos, a cada dia, buscar forças para o enfrentamento da criminalidade, cada vez mais ascendente, enquanto não somos remunerados o suficiente para resolver as necessidades básicas de nossas famílias. Isso, porém, não é motivo para desanimarmos e deixar de cumprir nossa missão. Precisamos ser heróis e somos como maioria dos brasileiros que trabalham e lutam honestamente.

Desde que iniciei na carreira policial, ouço em nosso meio a possibilidade de melhora, mas a cada novo governo nossas esperanças são frustradas, os esforços dos governantes convergem apenas para nos restringir direitos. Mesmo quando nossos direitos são reconhecidos via judicial, o Estado não reconhece ou demora a cumprir como é o caso da nossa aposentadoria especial restringida desde 1998 e pagamento de RPVs.

Embora tenha melhorado nos últimos anos, ainda estamos longe do ideal em termos de condições de trabalho. Buscamos sempre a melhoria dessas condições, cada um dando um pouquinho de si, podendo assim, prestar um serviço mais rápido e qualificado a população. Foi com esse propósito, tenho certeza, que os colegas se envolveram no episódio em que nos tornou alvo da imprensa nesta semana. Conheço a todos e garanto que são pais de família íntegros e trabalhadores. Se estavam cumprindo ordens, certamente quem os ordenou tinha a mesma intenção. Por outro lado, se porventura houve algum erro, dias antes da divulgação do fato na imprensa já havia sido instaurado um procedimento para apurar responsabilidades o que prova que nossa instituição é isenta e transparente.

Não sou contra a imprensa, acho que tem a obrigação de informar e a comunidade tem o direito de saber o que acontece no município, mas todo o profissional de imprensa precisa ser isento e ter consciência que é formador de opinião. Em outros blogs li matérias tentando associar o episódio desta semana com fatos pejorativos que desconhecemos, jogando um ar de desconfiança a toda a instituição.

Sei que algumas vezes somos estigmatizados, pois em um passado não muito distante, a polícia também fez parte do aparelho repressor do estado, mas hoje, temos a plena consciência que servimos a sociedade e que buscamos desenvolver nosso trabalho com inteligência, conhecimento técnico e conceitos éticos.

Sei também que fatos negativos contra nós sempre vão ter mais ênfase que os positivos. Nesta semana tivemos o desfecho de um trabalho de meses, foram madrugadas em campanas que culminou com a prisão de dois dos principais traficantes de Santiago e a apreensão de quase 6 kg de droga. Vi no rosto de um colega que me abraçou emocionado a felicidade pelo êxito do serviço e isto não é por dinheiro, não é por interesse e sim por amor ao que faz e pela sensação do dever cumprido. Estávamos no céu e de repente no inferno. Não costumo me manifestar, até mesmo em razão da minha profissão, mas não posso deixar de te agradecer por escrever algumas linhas em defesa da única coisa que nos resta que é a nossa dignidade.

Um abraço,
Rui Telmo de Freitas Paludett,
Policial Civil.