quarta-feira, 11 de maio de 2011

Existencialismo santiaguense

Às vezes, a vida é um tanto irracional. Nossas paixões naturais, difíceis de explicá-las, fazem-nos escravos. Dependendo do grau de seriedade e maturidade de cada ser, esse sofrimento é ampliado. O mundo a nossa volta e nossa compreensão sobre os fenômenos sociais, ativa nossos princípios de cidadania. Afora esses, outros valores subjazem. São valores, a rigor, eivados de subjetividade, como a ética decorrente da moral, conquanto o ethos é a ciência dessa.

Valores como bondades, amabilidades, ódios, rancores, tristezas, frustrações e inseguranças também habitam nossas almas e acabam sendo uma espécie de vetor de nossas vidas em nossas caminhadas terrestres.

Várias vezes entro em crise com meus valores, mas prefiro guardá-los nos porões do meu consciente racionalíssimo ser. Dói-me o florescimento da mendicância humana e quando vejo tudo errado a minha frente, sinto-me fraco e impotente. Prefiro chorar sozinho, sufocando o pranto por debaixo dos cobertores. A dor que invade minha alma, muitas vezes, é abismal. Pessoas como eu tendem a sofrer mais que as demais. Faltam-me crenças, outros valores. O mundo e a lógica da vida nos limites puros da razão, é um fardo difícil de ser carregado.

O ateu e o agnóstico, por não compartilharem de crenças subjacentes a moral religiosa, tendem a mergulhar num mundo estranho, sem sonhos, sem fantasias e sem esperanças. O tecido social tem um limite e as convenções da vida em sociedade obedecem ritos que se casam na conjunção de interesses entre a ética afeta a cidadania e a ética derivada de valores religiosos.

A mim, falta a ética espiritual e religiosa e o mundo é um vazio imenso quando os outros valores entram em crise. Hoje é um dia desses bem atípicos em minha vida. Estou em profunda crise. Mergulhado numa dor sem precedentes, minha alma é um caos. Tudo começou ontem quando decidi reler meu último livro. A política, que é o que mais amo, cada vez mais se apresenta podre e feita por gente cada vez mais tola e imbecil. Minha opção de escrever sobre como vejo o outro lado disso, abre-me fendas espirituais profundas. É tudo podre.

A lógica das convenções discursivas é podre, os jogos, técnicas, macetes, articulações, falas, tudo é eivado de podridão. Aí passo a questionar-me profundamente. Até onde eu não sou totalmente podre na medida em me seduzo tanto por tudo isso?

Em política, tudo é mentira ou quase tudo. Não existe decência. Ninguém fala a verdade, crassa o cinismo. Fingimos que aceitamos a mentira como verdade e tornamo-nos cúmplices da mentira e da falsidade.

Meu último livro versou sobre essas mentiras, daí porque afirmei que era um livro amoral. Com ele, veio uma crise enorme sobre meus ombros. Que bom que eu encontrasse um refúgio para minha alma. Que maldição eu carrego por meu ser não aceitar um pouquinho de abstração, seja do terreiro, da igreja, do templo, em suma, seja da manifestação que for.

Psicalizando-me, o que faço diariamente, vejo a contradição entre a herança de uma moral cristã e judaica que habita minha alma e a inquietação de não acreditar em praticamente nada que soe religião. Se alguém tiver alguma fórmula, por favor, mande-a para mim. Do contrário, sigo. Sigo tateando espaços vazios, ocos, inconclusos, confusos e misteriosos, como é o próprio destino das almas.