terça-feira, 3 de maio de 2011

Não sou mais eu quem vivo, mas Montaigne que viverá em mim

REVENONS A NOS MOUTONS  Essa máxima francesa tem um equivalente que significa: voltemos a vaca fria. Vaca? Mas moutons não é carneiro?


Vaca ou carneiro, recorri a esse adágio apócrifo francês, do século XV, popularizado através da FARSA DO ADVOGADO PATHELIN, para iniciar minha pequena reflexão desse dia 03 de maio de 2011.

Pierre Pathelin era um desses advogados metidos a malandros (desses que a gente não vê em Santiago) extremamente safado, que adquire de um vendedor uma peça de tecido e depois, para não pagar, finge-se de doente para enganar o mercador.

Depois, logo em seguida, comparece perante o juiz para defender um criado, acusado de um furto.

Marolas e marolas, e acaba absolvendo o criado, eis que transformou-o num verdadeiro idiota.

Na hora de receber seus honorários, o criado absolvido lhe responde assim: bééééééééééééééééé.

Moral: É impossível cobrar honorários de um carneiro. É a idiotice respondendo a tolice.

"Revenons à nos moutons" é a expressão citada por Rebelais, em Pantagruel, e usa-se empregada para ilustrar casos hilários, tipo os leitões que fingem-se de mortos para mamar deitados ou mesmo de saqueadores que negam contas, mesmo que estejam afundando e massacrando pequenos indefesos.

Aqui em Santiago, resguardadas as proporções e a dimensão temporal, essa historiazinha cairia muito bem num segmento local, onde dá de tudo, traficantes, contrabandistas, agiotas, especuladores, mentirosos, gente que está dentro e finge que está fora, gente que mana e finge que não mama, bandidos querendo posar de mocinhos, oportunistas e inescrupulosos bancando às virgens puras. E mais:  onde todos fingem desconhecer a lei, refutam a legalidade e fingem-se até de carneiros para evitar que prevaleça, afinal, a Justiça.

Deixar os porcos mamando deitados é o que todos querem. É nossa versão do conservadorismo digital ou nosso apoliticismo pós-moderno.

Os que dormem para Mecenas são os que tudo permitem aos poderosos e tudo negam os humildes. Essa célebre anedota é lembrada por MONTAIGNE nos Ensaios (livro III, Capítulo IV).

Que fazer contra os vômitos curturais e suas pretensões de controlar corações e mentes? É o que faço, é minha escrita. São reflexões como essa que elles e ellas sabem compreender.

Não serei mais eu que vivo, mas Montaigne que viverá em mim. Que sociedade!!! Mas que assim seja. Amém.