A vitória da oposição no Japão, capitalizando os sentimentos de frustrações decorrentes da grave crise econômica mundial, associado ao clima mudancista que existe em nivel mundial, deve ser bem entendida em nosso meio. Aliás, dela devem ser extraídas lições. A derrota de Taro Aso, impensável até bem poucos dias atrás, reflete - por outro lado - a jogada correta de Yukio Hatoyama, que afora canalizar os sentimentos coletivos de um povo, soube encarnar e transmitir um espírito mudancista inciado com a eleição de Barck Obama.
É claro que não se podem fazer transposições mecânicas de casos, e, afinal, cada caso é um caso. Mas não se pode mais negar que existe o clima mudancista e que os políticos começam a entender essa subjetividade, e, assim, capitaliza-la.
No caso brasileiro, não se pode negar uma obviedade ululante, afinal a oposição ao governo Lula, com mais força, nesse momento, parte de tucanos e democratas, o que não chega e se constituir em novidade e nem com bases substanciais a ponto de encarnar um clima mudancista. Quando muito, será o velho contra o mais velho.
Ainda é cedo para apostarmos num fenômeno tipo Marina Silva ou Heloísa Helena, que, decididamente, encarnam o clima de mudança e que se candidatam a esse processo capitalizador. Contudo, essa subjetividade política pode se expressar mais palpável em estruturas menores, como entes como estados federados ou municípios.
Faz muito tempo que escrevo que a singular vitória de Vulmar Leite, em 1992, deu-se numa conjuntura mudancista extrema, seja em nível mundial, seja em nível nacional.
As estruturas políticas dominantes precisam se modernizar, estar em sintonia com amplos setores da sociedade e, sobretudo, ter uma correta leitura do que se passa, não só no nível local, mas analisar em cadeia como os fatos se desencadeiam.
A crise econômica - ficou demonstrado no caso do Japão - pode ser uma faca de dois gumes. A situação tanto pode tirar proveito dela, quanto pode se enterrar com ela. E isso vale em qualquer nível político. No caso de Santiago, Chicão foi o maior beneficiário do grande momento da política econômica mundial e boa parte do êxito de suas administrações deve-se a abastança do fértil momento político mundial. Já Júlio Ruivo, tenho vaticinado insistentemente sobre isso, assumiu no pior momento de nossa economia. Desde novembro e dezembro tenho escrito e alertado que ele estaria herdando uma situação de desconforto e essa se expressa agora, nesse momento, na fase mais aguda da crise.
Se a crise de prolongar até 2011, 2012, como alguns preveem, é certo que ela prejudicará a tradicional inserção do PP na sociedade santiaguense, especialmente devido ao comprometimento das políticas sociais. Se, contudo, essa crise for breve e passageira, não se estendendo além de 2010, como outros tantos preveem, Júlio Ruivo resgatará o espaço perdido com a quebra momentânea da políticas sociais e retomará, a contento, o domínio da situação pela situação. Entretanto, tem sempre ao seu favor a ausência de oposição mais consistente, conquanto continua o mesmo grupo dominante da geração Vulmar, Burmann e por aí afora.
Mas, enfim, são leituras de um momento que se apresentam e sobre elas precisamos refletir. Os lançamentos de Pirro, tem efeito nulo e pouco substancial, enquanto insistem em velhas fórmulas decantadas. O novo, no espectro oposicionista, ainda não surgiu. O novo, não quer dizer que tenham que ser políticos novos, mas - sim - novas teorias, novas leituras e novos entendimentos. E nisso, a oposição municipal está longe, muito longe. Não é de hoje.
Entretanto, Júlio Ruivo precisa ser atento e muito vigilante com cada desdobramento e com cada fato político.