Sei que é curioso, mas até o último domingo eu não havia feito nenhum concurso público em minha vida, exceto os vestibulares para sociologia e direito.
Como a situação para o pessoal da imprensa não anda nada boa, mas nada boa mesmo, já tornei público por diversas vezes que iria tentar um outro trabalho. E, dentro desse espírito, fiz meu primeiro concurso público, queria ver como era, ganhar experiência e, é certo, vou seguir fazendo.
Inscrevi-me numa única vaga para Direito no IFET do Amapá. O resultado é público a partir dessa noite, está na internet, para que quiser ver e certificar-se. Do peneirão inicial dos 800 e poucos inscritos, sei lá, faltaram quase 200 e baixou a concorrência.
A prova era assim: eles davam 5 pontos do direito para os candidatos se prepararem. Direito comercial, civil, administrativo, tributário e ambiental.
E depois, na hora, era sorteado um tema para o desenvolvimento da redação. O sorteio deu direito ambiental. Quando eu fiz faculdade em POA ainda não tinha essa disciplina, só vi alguma coisa aqui em Santiago, com o Antônio Augusto Bierman Pinto, esse talento de professor.
Prestem bem a atenção no desencadeamento lógico desse relato para verem onde a coisa vai chegar, quem eram os inscritos, suas notas, suas origens, seus professores...essas coisas. Atenção Guto.
Primeiro, o concurso segue, ainda não terminou, existem outras etapa ainda. Nada está definido.
O Tema sorteado para a redação era DIREITO AMBIENTAL, O SISNAMA, Tutela constitucional e infra-legal.
Nessa noite, por perto da meia noite, a direção do Instituto Federal do Pará liberou as notas e os aprovados.
Eu fiquei em terceiro lugar , terei nota 7.0. Um outro candidato também tirou 7.0, mas me perde o lugar pela idade. Aí fui ver quem eram esses professores disputando a vaga comigo, que até hoje nunca dei uma aula. Fui no sistema Lattes e descobri algumas curiosidades. Vejamos: o candidato que aparece com a mesma nota minha, é Rafael Bueno Barboza, Advogado, Mestre em Direito Ambiental tendo sido orientado – acreditem – por Paulo Affonso Leme Machado (o guru do direito ambiental na atualidade), professor e diretor da Faculdade de Direito da Amazônia. Olhem a parada dura que eu estava metido.
Aí procuro o lattes de uma outra candidata Alzira Marques Oliveira, que ficou em quinto lugar...outro susto: Mestrada em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Pará.
A moça que tirou primeiro lugar, aliás, bem tirado, tem muitos anos de chão e professora há mais de 15 anos, advogada e , advinhem, MESTRE EM DIREITO AMBIENTAL pela Universidade Federal do AMAPÁ.
Bem, nessas alturas, sejamos francos, a questão sorteada foi direito ambiental e o pessoal do direito ambiental, em Nível de Mestrado por universidade federal, se deu melhor que todos os outros, exceto desse modesto blogueiro, que é apenas especialista em Produção Textual, mas que saiu no mesmo nível do pessoal mestrado em federais.
Agora, sábado tem o sorteio da questão para a aula teórica e domingo é a aula.
Mais uma vez criar-se-á uma situação interessante: dos 9 finalistas aprovados, onde eu estou em terceiro lugar, o único que nunca deu uma aula fui eu. Mas vamos em frente. Na prova de títulos, eu não tenho chances, ainda mais perto desse pessoal com décadas de magistério superior.
Mas, afinal, foi ótimo eu ter feito esse concurso, medi-me bem, fiquei muito feliz e vi que estou realmente preparado para encarar os próximos desafios.
Anexo:
O relato abaixo, intimista e pessoal, já estava escrito no meu diário, partes que eu apenas escrevo e não torno público, mas vou tornar público, agora, até para que entendam que as condições quando eu prestei essa prova não eram as melhores:
Dia 24 de abril de 2010
Desci na rodoviária em Porto Alegre, sem dormir, comprei uma passagem de metrô e fui até o aeroporto Salgado Filho. Foi uma viagem cansativa, o ônibus faz uma volta por São Sepé e sentia-me vivamente enjoado. Chegando no aeroporto, estranho tudo. Estava em reformas, fechado. Eram seis e pouco da manhã. Encontro um guarda e pergunto o que houve. E só então descubro a mudança. Não sabia disso. Minha mochila pesa, está cheia de livros, carrego o computador da Lizi e apenas uma muda de roupa. Levo uma calça, duas camisetas e um par de chinelos de dedos.
Andando a pé, cansado, vou até novo setor do aeroporto. E vou direto ao balcão da GOL, troco a passagem, apresento documentos, todas aquelas formalidades. O avião segue às 10.20 para São Paulo.
Então, pego meus livros e começo a estudar. Sem dormir, tudo fica muito complicado...reviso longamente os pontos de Direito Civil, Constitucional e Administrativo. Noto o quanto é complicado o processo de aprendizagem com o corpo cansado. Acho que a mente e a capacidade de gravação ficam prejudicados.
São horas cansativas e torturantes.
9.05 da manhã meu telefone toca e é o amigo Diniz Cogo. Explico-lhe que estou em POA (acho que ele imagina que eu não viria). Passo-lhe o telefone da Lizi e ele promete que vai procura-la, visto que ficará sozinha.
Finalmente, 9.40 e começam os procedimentos de embarque. Foi tudo tão simples...antes do embarque, sonhei que dormiria na viagem.
Entretanto, ficava cada vez mais acesso e nada de descansar. Na viagem de Porto Alegre até São Paulo leio e reviso o programa de direito ambiental. A viagem foi rápida.
Chegando no aeroporto em Guarulhos senti uma situação um tanto anômola. Orientaram o pessoal que ia para Macapá a ir para o balcão 19. Olho no sistema e não consta o número do vôo 4901 e havia uma previsão de vôo para Macapá somente as 17 horas.
Cansado, cansado, começo encher o saco do pessoal da GOL e tanto corri e corri que descobri que a GOL não tinha tal vôo e que minha passagem estava na PUMA AIR. É que a GOL compra vôos da Puma.
Sinto fome, passa do meio dia. Saio dos guichês e vou até os restaurantes do aeroporto de Guarulhos. Fico impressionado. Uma coxinha custa 9 reais e uma latinha de coca-cola custa 5 reais.
Volto para os guichês e, finalmente, descubro o portão de embarque da PUMA AIR. Ao invés da informação da própria gol que indicava ser o balcão 19, o balcão certo era o 1. Nunca tinha visto tamanha confusão, os próprios funcionários da companhia aérea não saberem os balcões certo para orientarem seus clientes.
Como era cedo, decido estudar o ponto mais complicado: direito empresarial, notas promissórias, falência e concordata, sociedades...que matéria complicada, odeio isso.
Estudo até as 3.30 que era a hora prevista do embarque no avião da PUMA AIR.
Nada, nada e nada.
São 4.10 quando começam os procedimentos de embarque. Subimos no ônibus de transporte de passageiros até o avião.
Lá chegando, um susto. O avião é velho, mas bota velho nisso.
E a viagem em direção a Belém é longa...
Aí começa uma confusão.
Uma passageira na cadeira de roda, desmaia. Chamam médicos, enfermeiros...decidem que ela não vai seguir vôo
A seguir, um engenheiro sino decide que não vai viajar e cria uma confusão. Alega que comprou na Gol e que foi enganado...pede a presença do pessoal da GOL.
O pessoal não aparece, o aeroporto de GUARULHOS é uma zorra. Mais parece um território sem lei. O engenheiro alega que conhece os aviões da PUMA e bota pânico em todos.
Uma política do Amapá, no mesmo vôo, decide apóia-lo. Amplia-se a confusão.
Eu só penso em dormir e já eram 17 horas e nós presos em São Paulo...senti medo de não chegar a tempo em Macapá.
Os passageiros decidem ficar. Abrem-se as portas, desembarcam as malas.
Naquelas alturas o pânico que já estava formado quando surge ou vaza uma notícia, não sei como, que o piloto do vôo havia sofrido um acidente de carro e que o vôo seria tocado apenas pelo co-piloto.
Bate-boca e a comissária explica que é verdade o acidente, mas que um novo piloto já estava se dirigindo a aeronave.
Finalmente, o piloto apareceu.
Todos voltam aos assentos e começam os procedimentos de rotina. Nessas alturas a confusão era tão grande que até eu imaginei que o avião iria cair.
Mas ...
Ainda bem que tão logo o avião estabilizar as aeromoças começam a servir as refeições. Eram umas 20 pessoas e mais parecia um avião fantasma.
Comi e pedi um outro prato. A moça entendeu minha fome. Comi um segundo prato, com guaraná e imaginei que dormiria no longo caminho até Belém e lá até Macapá.
Doce ilusão. Não consigo apagar.
Aí resolvo ler alto a matéria...pego minhas fixas de leituras e começo a revisar tudo, tudo, tudo, tudo.
A viagem acabou ficando rápida e breve.
A passagem por Belém é rápida.
Belém até Macapá é 20 e poucos minutos.
Finalmente, o avião não tinha caído e eu estava chegando em Macapá.
Desço rápido e caio numa armadilha da imprensa. Um canal de TV local estava no aeroporto entrevistando as pessoas que chegam a Macapá...traído pela pressa, tive que dizer porque estava chegando a Macapá, finjo que sou simpático, mas meu sotaque é que encanta e faz a diferença. O aeroporto é pequeno, singelo, embora o pomposo nome e a denominação INTERNACIONAL.
Eu já sabia tudo sobre a cidade...mapa por GPS, hotel, avenida FAB onde eu faria a prova.
Também sabia que o aeroporto era pertinho, uns 3 km do centro...dava para ir a pé, mas meu cansaço era grande.
O taxista quer conversa e sou ríspido...minto que sou militar e que quero ir até a av FAB.
Eles gostam de dar voltas quando sentem a
cara de babaca do passageiro.
Mas eu me adiantei e pedi para ele seguir pela JK...e o cara achou que sabia tudo, embora meu sotaque meu.
Desço na frente da escola onde teria o concurso no domingo, às 8 horas da manhã.
Começo a procurar pelos hotéis que havia mapeado...supresa...estão todos lotados.
Então me dirijo até o hotel amazonas. Consigo um quartinho de 50 reais a diária. Todos me olham, minha brancura e o sotaque indica que venho de outras bandas.
Arrumo o celular para despertar às 6 horas...
Tomo um banho...e deito-me. Só que nada e nada de eu apagar. A ansiedade é muito grande...Cheguei perto da meia-noite e as horas passavam e nada de eu dormir.
Decido, então, radicalizar. Levanto, tomo um banho frio e saio na chuva...o dia já está claro, são 6 horas da manhã e dirijo-me até a escola onde ocorreria a prova. Ainda no hotel encontro uma turma de professores de São Paulo, Ceará, Curitiba, Florianópolis, Maceió...aí vejo que será uma guerra o concurso.
Na escola Antonio Pontes os funcionários estão lá. Todos agitados. Corre-corre.
Sento-me num banco enorme e fixo meu olhar na chuva. Penso na Lizi, no futuro da Nina, estou confuso, cansado e já não mais tenho condições de raciocinar para a prova.
Uma senhora, negra, gorda, estilo baiana, pergunta se estou triste. Respondo que não e digo que é cansaço. Ela me oferece um café preto, o café das faxineiras. Tomo o café, lavo o rosto e fico na frente da sala.
O tempo passa e os candidatos começam a chegar. O temporal é grande.
Depois aparece o pessoal do Instituto Federal Tecnológico.
Reclamo que não tem classe para canhotos. Aparecem, então, com uma classe inteira. Melhor.
Começa o ritual...revisão dos cartões, documento com foto...
E procede-se o sorteio.
O TEMA é Direito Ambiental.
Não acredito em sorte, nem em entidades metafísicas, apenas acredito na minha capacidade, ou sei ou não sei. Eu sabia, mas estava cansado.
A peneira foi passada na primeira etapa. Agora, domingo próximo, o seleto grupo de aprovados na parte escrita, terá que mostrar que sabe falar, dando 30 minutos de aula para uma não menos seleta banca de doutores do instituto federal tecnológico.
O Tema da aula expositiva será sorteado sábado, às 8 horas da manhã.
Como faço em todos os lugares que chego, revisto-me de informações prévias: dados sobre o Estado, economia, imprensa, universidades, políticos, restaurantes, quem são os corruptos, que são os mocinhos...
O amapa é um Estado muito interessante. ...