domingo, 20 de junho de 2010

Despolitização e mentiras

Um dos discursos mais cínicos na política é esse que propugna pela não politização das atividades estudantis, especialmente pela atividade universitária.

Tudo que diz respeito à vida universitária tem a ver com a política e com os rumos políticos do país. Começa com o ENEM, PROUNI, ensino público e/ou privado, cotas raciais e sociais, passando pelo preço do caderno, do livro, da caneta, do computador, da internet grátis ou não...em suma, tudo que envolve a vida dos estudantes dentro de uma universidade é política, sim.

Peguemos um ponto apenas do debate, a questão do ensino público e gratuito. Quem faz esse debate são os partidos políticos. Os estudantes que não quiserem perder o bonde da história, precisam fazer esse debate, precisam debater o que querem para o seu país e o que querem do seu país.

Se de um lado, toda a questão estrutural do ensino é fortemente política, também o é em termos de conteúdo, seja em história, seja no direito, seja nas letras. Alguém duvida que ao cotejar a linha francesa da análise do discurso com a linha americana não estamos diante de duas posições bem ideológicas? Viva Althusser e Noam Chomsky! Alguém duvida que o conteúdo de um ensinamento de história não esteja eivado de visões político/ideológicas? Ou alguém imagina que os professores de Direito ao omitirem as verdadeiras vertentes epistemológicas do Direito, ao fazerem apologia da lei pura e crua não estão fazendo apologia do establishment? E por que os alunos cricri vão além buscando a teoria dialética do Direito?

Os professores de engenharia ao defenderem os transgênicos como uma verdade absoluta não estão adotando uma posição política? E os que estão contra também estão adotando uma posição política.

O ônibus que nos leva até a universidade também é uma questão política, o custo da passagem, o salário do motorista, a capacidade de usuários, o custo do combustível do nosso carro, o valor dos tributos inseridos no custo da gasolina, o preço de um tênis, a carga tributária desse tênis, a internet que temos em casa, tudo, tudo, tudo, são questões vivamente políticas.

A URI, situada nesse debate, volta e meio é assaltada por alguns supostos moralistas, puritanos babacas que não sabem o que estão dizendo, acusam as pessoas de fazerem política dentro da universidade. É claro que é preciso haver um limite na atividade partidária, mas ninguém segura o debate político e esse é essencialmente partidário. A gente camufla, dissimula, diz uma coisa e faz outra, mas no fundo, no fundo, tudo é político. Ou quando esses “neutros” botaram aqueles adesivos tucanos “CHEGA DE CORRUPÇÃO”, em suas camionetes, não estavam desenvolvendo uma atividade política e partidária?

Por fim, reflitamos com Bertold Brechet sobre o analfabeto político:

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

É claro, aqui em Santiago e em qualquer parte do mundo, cada um mente do jeito que quer e ajusta a história ao seu bel interesse. Aqui em Santiago inventaram, por exemplo, que a luta pelo ensino superior em Santiago começou com a professora Aida. Eu vasculho, vasculho, vasculho, vasculho, vasculho e vasculho a história da luta pelo início do ensino superior em Santiago e nunca encontro seu nome. Aliás, o movimento do ensino superior em Santiago começou nos meados dos anos 60 com Enio Kinzel, Maximiliano Stakowiski, Jader Saldanda, Ivo Pauli, entre outros. Quando tudo já estava criado e funcionando, quase uma década depois, em 1975 é que a FAFIS a contrata. Isso – sim – é uma baita falsificação da história, mentir sobre uma participação que nunca houve e omitir os verdadeiros nomes participantes dessa história.

Tem outras coisas que eu conto outro dia só para ver à reação dos que se apropriam da história forjada pela ditadura e falsificam os fatos para ajustá-los aos seus interesses nos dias atuais.