quarta-feira, 18 de maio de 2011

Caroline Aquino, da UFSM, amplia o debate sobre o Livro do MEC

Olá Julio, sou Caroline Aquino, graduada em Letras pela UFSM. Atualmente faço parte do Grupo de Estudos Linguísticos do Laboratório Corpus (UFSM), coordenado pela profª Amanda Scherer, a qual foi orientadora da profª Zélia Paim em sua defesa de doutorado.

Apresentações feitas, quero dizer-te que acho importantíssimo todo este debate que se tem feito em torno da variedade linguística, do uso, da norma. Considero extremamente preocupante como foi referido em teu blog que "Ninguém sabe o que pensam as professoras locais, não sei se é insegurança de posicionarem-se ou se é ignorância mesmo", uma vez que estamos observando na mídia, na maioria das vezes, o esmagador posicionamento de jornalistas que não possuem a propriedade para tratar o assunto como a profª Zélia, por exemplo. A frase "PRECONCEITO é opinião sem conhecimento" se aplica perfeitamente nesse contexto e até quando será feito silêncio? Cabe lembrar que somos nós, professoras e professores, que estamos dentro da sala de aula e que encontramos nesse pequeno espaço, entre classes e cadeiras, não só 'as elites brancas de olhos azuis', o que encontramos é a pluralidade, é a V A R I E D A D E. Fora este breve desabafo, gostaria de te informar algumas discussões que vem sendo feitas através de redes sociais, como o facebook. Uma delas é o " Dia da Revolução da Língua Portuguesa: independência ou morte", podes conferir através do link http://www.facebook.com/event.php?eid=216665755018553. A seguir apresento o texto de um ex-colega de graduação Claussen Munhoz, criador do evento:

"Se você compreendeu até agora esses sinais gráficos que estou escrevendo em um outro momento, somos falantes da mesma língua. Se eu disser uma palavra, por exemplo, “saudade”, e você compreender seu significado, quer dizer que estamos sob a mesma convenção que estipulou esse significado linguístico, que é único no mundo. Estamos nos comunicando através de um signo comum (mas deixando essas baboseiras acadêmicas de lado), quer di...zer que nos entendemos por que falamos a mesma língua.

E se eu estivesse escrevendo em um código diferente, nos entenderíamos?

Convido a todos que neste dia escrevam da forma que acharem mais apropriada, rompendo com todos os códigos e convenções para comunicação, rompendo com todas as correspondências fonéticas, referências onomatopéicas ou qualquer forma convencionada que denote o significado de alguma coisa. Não, não se trata de uma licença poética, mas de uma revolução linguística. Convido a todos para a total liberdade de expressão em grafismos, para uma quebra da unidade da língua e um questionamento sobre quem constrói nosso conhecimento de mundo e quem permeia nossa visão sobre nosso ambiente, construindo nossa cultura, nos moldando como sujeitos.

Se é verdade que não há necessidade de uma norma para a comunicação entre iguais, também é verdade que cada indivíduo tem o direito de escrever/comunicar de forma individual e acima de qualquer lei. Se nos comunicarmos dessa forma, se houver um diálogo, se afirmarmos uma unidade através da ruptura com os códigos linguísticos, estaremos libertos de códigos e normas.

Se nossa comunicação não funcionar, aceite, somos apenas brasileiros falantes de um português influenciado por índios, africanos, portugueses, italianos, alemães, árabes, japoneses... Somos o resultado de uma língua que evoluiu e estipulou como norma a abrangência de todos os seus falantes. Diferentes, é certo, mas com necessidades democraticamente comuns, como a língua pátria que desenvolveram e que recebemos como herança ligada à terra.

Conteste sua língua e verifique o seu valor. Democracia é direito de escolha, não privação.

Dia 25, use sua língua."

Um cordial abraço, parabéns pelo blog e por não silenciar, espero poder contibuir na fomentação do debate,

Caroline Aquino.